23/06/2008

Rocha da Pena: Um relevo vigoroso

Rocha da Pena (Algarve) © Pedro Cuiça (1986)

Rocha da Pena (Algarve) © DR (2006)

[Conservação ● Jornal Forum Ambiente, nº 55, 16 de Dezembro de 1995]

A Rocha da Pena, localizada no limite setentrional do Barrocal algarvio, a norte da estrada entre Alte e Salir, no concelho de Loulé, constitui um biótopo de grande interesse e é o único relevo verdadeiramente vigoroso no Algarve.

A pitoresca Rocha da Pena (480 m), Sítio Classificado segundo o Decreto-Lei nº 392/91 de 10 de Outubro, é o único relevo verdadeiramente vigoroso existente no Algarve. Carso alcandorado, alongado segundo uma orientação geral E-W (este-oeste), ultrapassa 50 metros de altura na vertente sul.
O modelado cársico, expresso por diversas formas lapiares, está bem patente quer nas vertentes quer no topo da elevação. Uma dolina de abatimento dá acesso ao Poço dos Mouros, caverna rica em tradições e uma das maiores do Algarve.
A vegetação varia desde formações pioneiras sobre rocha nua e litossolos a diversos estádios de maquis e garrigue flora característica do Barrocal, constituída por agrupamentos típicos de plantas mediterrânicas, que engloba nove espécies endémicas e é, na sua composição variada, um elemento de grande beleza paisagística.
Os verões quentes e secos imprimem o carácter estépico da vegetação herbácea e explicam a dominância de árvores e arbustos de folha perene. Esses longos estios determinaram também inúmeras adaptações xerófitas: folhas reduzidas, cobertas de pêlos ou de verniz, coriáceas, aceradas ou tomentosas e resinas odoríferas responsáveis pelo aroma inconfundível dos carsos mediterrânicos.
Apesar de degradada, a fauna da Rocha da Pena apresenta ainda uma diversidade e ocorrência de espécies raras que importa salvaguardar. De entre os mamíferos destacam-se o Geneto, o Saca-rabos, a Raposa, a Lebre, o Coelho e diversas espécies de morcegos. A avifauna é, também, de grande valor, destacando-se a presença de rapinas, como a rara Águia de Bonelli (Hieraetus fasciatus). De facto, existem referências que indicam ter sido a Rocha da Pena muito frequentada pelas rapinas. Por exemplo, Silva Lopes (1841) e Estácio da Veiga (1886) assinalam a existência de grifos, francelhos, milhafres e gaviões.
Relevo altaneiro, a Rocha da Pena constitui por natureza um miradouro de onde se poderá desfrutar largas vistas panorâmicas, sendo de referir a norte o vale da Quinta do Freixo e, mais longe, o relevo em montículos de toupeira da serra de xisto que se estende até à linha do horizonte, a oeste o entalhe de erosão da ribeira de Alte e a Rocha dos Sóidos (467 m), a sul a repousante paisagem que, do barrocal ao litoral, se espraia no azul, entre o céu e o oceano.
As serranias, arribas costeiras, ravinas e outros locais de difícil acesso eram tradicionalmente pouco frequentados pelo Homem, no entanto, o grande incremento das actividades de ar livre, que se verificou nos últimos anos, começa a reflectir-se na qualidade desses locais de grande beleza paisagística e riqueza natural. Apesar da Rocha da Pena ser um Sítio Classificado, as acções do Homem contra o património natural aí existente são uma realidade. Por exemplo, a afluência de grande número de pessoas à caverna do Poço dos Mouros tem provocado um impacte significativo nas colónias de morcegos aí existentes.
A Rocha da Pena merece ser visitada (e valorizada), no entanto, tenha-se em atenção que “não deixar mais que pegadas e não tirar mais que fotografias” poderá ser insuficiente para uma correcta conservação dessa área.

Rocha da Pena (Algarve) © Pedro Cuiça (2006)

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