25/07/2008

Pedagogia espeleológica

Espeleologia
No reino da escuridão


[ABC DO AVENTUREIRO ● revista Forum Ambiente nº 50, Julho de 1998]


A palavra “espeleologia” foi criada por E. Riviére, em 1890, do grego spelaion (gruta) e logos (tratado). A espeleologia será pois a ciência que se “consagra ao estudo das cavernas, da sua génese e evolução, do seu meio físico, do seu povoamento biológico actual ou passado, assim como dos meios ou das técnicas que são próprias ao seu estudo (Gèze, 1965). Édouard-Alfred Martel, considerado o fundador da espeleologia (1888), estabeleceu desde logo a vocação científica desse ramo do saber ao defini-lo como sendo “a história natural das cavernas”.
A espeleologia, para além da componente científica, comporta uma acentuada vertente desportiva. Esta ciência-desporto, pela natureza do meio onde se desenvolve (as cavernas), atraí inúmeros praticantes pelo simples recreio e lazer. O equilíbrio entre a ciência multidisciplinar e o desporto-aventura será, no entanto, imprescindível para a conservação e conhecimento do meio subterrâneo. A formação de novos espeleólogos é, pois, de primordial importância, especialmente quando o rápido crescimento, não sustentado, do desporto-aventura começa a levantar problemas.
Consciente da falta de legislação que enquadre a modalidade e da carência de meios do movimento associativo, a Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES) está a desenvolver uma metodologia pedagógica assente em cinco objectivos: comportamentais, motores, técnicos, ambientais e científicos. O modelo aplicado à espeleologia foi traduzido numa Tabela de Intensidades e Incidências dos diferentes objectivos relativamente à sua aplicação em cada fase da vida: infância (8-10 anos), pré-adolescência (11-12 anos), adolescência I (13-14 anos), adolescência II (15-16 anos) e idade adulta (mais de 16 anos).
A coordenação do projecto está a cargo de Gabriel Mendes, espeleólogo da AES desde 1984. O projecto conta igualmente com o apoio de dois psicólogos, João Antunes (da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias) e José Luís Nascimento (do Instituto Superior de Línguas e Administração), que elaboraram “uma nova metodologia pedagógica onde é dada importância acrescida às componentes comportamentais”.
O projecto está em fase avançada (sobretudo na faixa etária 11-12 anos) e já existem experiências piloto no terreno. A AES e o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) estão a executar uma experiência piloto, com a aplicação desta nova metodologia pedagógica, a três níveis: um curso de monitores, um curso de coordenadores de actividades espeleológicas e um curso de iniciação à espeleologia. Os resultados dos estudos, ainda em desenvolvimento, serão apresentados no V Encontro Nacional de Espeleologia que irá decorrer, em Sintra, no próximo mês de Outubro.

Almonda (PNSAC) © Tiago Petinga (digitalização revista FA 1998)

Aprendizagem

Requisitos
Variam bastante de acordo com as associações ou empresas que ministrem os cursos. Os menores têm de apresentar, em geral, autorização do encarregado de educação.
Duração
Os cursos de iniciação à espeleologia da AES desenvolvem-se ao longo de três fins-de-semana de aulas teórico-práticas, seguido de um acompanhamento personalizado ao longo de um ano.
Custos
O curso de iniciação da AES custa 25 mil escudos e inclui seguro e alojamento.
Bibliografia
Não existem manuais em português, a Associação dos Espeleólogos de Sintra usa o Manual de Espeleologia das edições Desnivel (Madrid). Com sorte, poderá encontrar as traduções de algumas obras de espeleólogos famosos. À Margem do Tempo, de Michel Siffre (Publicações Europa-América, 1965), Descoberta do Mundo Subterrâneo, de Michel Bouillon (Livros do Brasil, 1972) ou Dez Anos Debaixo da Terra, de Norbert Casteret (Livraria Tavares Martins, 1940).
Contactos
(…)


Material


Material individual: capacete com iluminação mista (acetileno e eléctrica), gasómetro e carbureto, fato-macaco ou mono (em cavidades activas usa-se fato de neoprene), luvas de PVC, botas de borracha (galochas), arnês de cintura e arnês de peito, um mosquetão semi-redondo (demi-round), 6 mosquetões simétricos e com rosca, descensor (idealmente o Stop da PETZL), bloqueador ventral (o Croll da PETZL) e bloqueador de punho (o Ascension da PETZL), pedal e arreata (longe), saco de material.
A iluminação com base no acetileno (gás resultante da reacção do carbureto com a água num gasómetro) apresenta um grande rendimento (até oito horas) e intensidade luminosa.
A luz eléctrica é importante como iluminação secundária ou de apoio, nomeadamente ao longo de ribeiras subterrâneas).
Material de equipa: cordas estáticas, fitas e cordeletas, martelo, burilador (cravador), spits, plaquetas, pitões, entaladores, roldanas, mosquetões de rosca, sacos-de-material, eventualmente escadas flexíveis,…
Onde adquirir?
(…)

Garganta do Cabo (Espichel) © Francisco Rasteiro (digitalização revista FA 1998)


[NOTA: Optamos por não colocar os contactos das associações de espeleologia existentes em Portugal porque a listagem apresentada na revista está desactualizada e não inclui todas as existentes à data (o que veio, aliás, a causar alguma polémica por parte precisamente de uma das não visadas). Na mesma linha de raciocínio também não publicamos a lista de importadores e/ou de lojistas. O custo do equipamento também não se inclui por estar grosseiramente desactualizado...]

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