22/09/2008

(Sobre)vivências paradoxais


"Vivemos de forma paradoxal: não conseguimos passar sem o maravilhoso mundo do progresso e das novas tecnologias, mas ao mesmo tempo sentimos uma incontrolável necessidade de “regresso às origens”, de contacto com o que é “natural”, e uma inexplicável nostalgia do “passado”, de um antes que nunca experimentámos, e que só conhecemos de ouvir outros contarem. É destas aparentemente inconciliáveis partes de um mesmo todo que se faz o nosso dia-a-dia no início do século XXI, que nos põe freneticamente à procura de “actividades” que possam responder a todas estas ansiedades que sentimos e que nos levam da imersão no mundo virtual à corrida pelas matas e florestas para “observar” a natureza. (…)" [Sofia Barrocas (Notícias Magazine, nº 852, 21 de Setembro de 2008)]


Na verdade, muita gente vive nesta aldeia global - a Terra -perfeitamente apartada, a tempo inteiro, do “maravilhoso mundo do progresso e das novas tecnologias”. Sim, nomeadamente esses que ainda vivem a insubstituível aventura de pleno existir a/na natureza naturalmente.
Estive ausente uma semana no monte e por lá ficava… Não senti necessidade alguma de internet, de televisão ou de outras distracções perfeitamente dispensáveis. A vida bem real e palpável terá pouco de virtual e muito de concreto. E, nessa base, ainda bem que vou ficar mais outro tanto tempo noutras paragens bem reais...

12/09/2008

Espeologia (I)

Lisboa underground

A cidade de Lisboa tem mais para ver do que aquilo que se encontra à superfície. Tal como Paris, que esconde vastas catacumbas, ou Roma, onde se oculta uma larga rede de túneis, Lisboa também possui património subterrâneo de grande interesse e valor.
No âmbito das comemorações das Jornadas Europeias do Património, o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML) vai abrir as Galerias Romanas da Rua da Prata (sita na Rua da Conceição junto ao nº 77), nos dias 26 a 28 de Setembro. Este monumento, raramente visitável devido às condições de acessibilidade, abre este ano apenas durante estes três dias, entre as 10 e as 18 horas. O público pode visitar gratuitamente e sob a orientação de técnicos do Museu da Cidade este monumento que faz parte do património edificado lisboeta.
Paralelamente, o Museu da Cidade apresenta, no dia 25 de Setembro, uma sessão de trabalho com profissionais de várias áreas implicados no estudo das Galerias Romanas, para mostrarem os resultados dos estudos efectuados no local. Estas sessões, que incluem uma visita guiada às galerias implicam marcação prévia pelo telefone (217 513 215).
Desde a data da sua descoberta, na sequência do grande terramoto de 1755, esta estrutura romana é identificada como sendo um criptopórtico. Datada entre o século I aC. E o século I dC., esta estrutura subterrânea é contemporânea de outros grandes edifícios públicos da cidade romana de Olisipo. Não se efectuam marcações. Devido à grande adesão, a fila é encerrada atempadamente (17.30).
Para mais informações, contacte a Divisão de Museus e Palácios da CML (Campo Grande nº 245 – 1700-091 Lisboa) através do telefone 217 513 200, do fax 217 571 858 ou e-mail: museudacidade@cm-lisboa.pt.

Psicologia do desporto

Espeleologia
Pensamento na acção

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 235, 15 de Junho de 1999]

O Centro de Interpretação das Grutas do Almonda foi palco, nos dias 22 e 23 de Maio, de uma actividade de desporto-aventura de características inovadoras. As atenções centraram-se na psicologia do desporto, numa iniciativa promovida pela Universidade Lusófona.

A Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias realizou um fim-de-semana de desporto-aventura e formação outdoor nos dias 22 e 23 de Maio, subordinado ao tema “Explorando Percursos da Psicologia do Desporto”. A iniciativa, que teve lugar no Centro de Interpretação da Gruta do Almonda (Vale da Serra - Torres Novas), contou com o enquadramento técnico da Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES) e do Grupo de Montanha e Escalada de Sintra (GMES), bem como do apoio da Vertical, Bonança, Ice Tea e Kellog’s.
A acção teve como objectivo a divulgação da psicologia do desporto recentemente criada na Lusófona: a primeira universidade de Lisboa a incluir essa área no curriculum dos cursos de psicologia. Docentes, alunos e jornalistas participantes tiveram assim a oportunidade de conhecer, na prática, a nova aposta da Universidade Lusófona, num fim-de-semana de recreio e lazer, em que a adrenalina marcou presença, com rapel, slide e orientação. Mas a teoria não foi esquecida. O evento serviu igualmente para abordar diversas componentes da psicologia do desporto. Através da prática dos desportos-aventura, os participantes foram tomando contacto com os diversos aspectos abrangidos por esta especialidade, nomeadamente as saídas profissionais. João Antunes, responsável pela iniciativa e coordenador da área da psicologia do desenvolvimento e das actividades físicas da Universidade Lusófona, classificou a experiência de “muito positiva”, opinião partilhada pelo coordenador da equipa técnica, o espeleólogo Gabriel Mendes.

Psicólogos para o desporto
A psicologia do desporto e das actividades físicas consiste no estudo científico do comportamento das pessoas envolvidas no desporto e nas actividades físicas. A maior parte dos estudos neste domínio pretendem determinar “como é que os factores psicológicos afectam o rendimento físico dos indivíduos” e “compreender como é que a participação no desporto e no exercício físico afecta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar das pessoas”.
Para João Antunes, “a psicologia do desporto pode ser caracterizada pela preocupação com o efeito dos factores psicológicos no comportamento humano em contextos desportivos e com os efeitos psicológicos que a participação no desporto ou no exercício e actividade física poderão ter nos participantes”.
Gould (1990) acentuou, de forma clara, um dos valores fundamentais da psicologia do desporto. Para esse investigador, a disciplina permite “fornecer informação psicológica a todos aqueles que estão envolvidos em contextos desportivos e de exercício físico, por forma a ajudá-los a atingirem os seus objectivos, independentemente de tais objectivos serem a melhoria do rendimento, uma vida mais saudável ou o divertimento e satisfação provenientes da participação na actividade física”.
A psicologia do desporto surgiu em Portugal pela mão do professor António Paula Brito, considerado por muitos o pai da psicologia desportiva em Portugal, que introduziu a cadeira de Psicologia do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana (FMH), na altura designada de Instituto Superior de Educação Física. Depois de ter acompanhado a equipa portuguesa que participou no campeonato do mundo de vela, em 1973, António Paula Brito fundou a Sociedade Portuguesa de Psicologia do Desporto. Saliente-se que, na década de 70, a Direcção Geral dos Desportos e muitas federações desportivas também divulgaram a matéria nos seus cursos. A FMH da Universidade Técnica de Lisboa conta actualmente com um mestrado na área da psicologia do desporto. O professor José Cruz criou na Universidade do Minho uma pré-especialização nessa área do saber em 1995.
Nos últimos anos, tem-se evidenciado um interesse crescente pela psicologia do desporto e das actividades físicas. Uma excelente oportunidade para aprofundar os conhecimentos neste domínio com a criação de possibilidades de formação especializada, quer através de áreas de especialização em psicologia do desporto e das actividades físicas nos cursos da Universidade Lusófona e da Universidade Minho, quer através dos cursos de mestrado em psicologia do desporto na Universidade do Minho e na Universidade Técnica de Lisboa.
Em Portugal, a intervenção psicológica em contextos desportivos ainda é vista com alguma desconfiança, mas revela-se certamente um ramo muito promissor, nomeadamente no que respeita às actividades de ar livre.

11/09/2008

Ensino-Aprendizagem

Espeleologia
Ensino nas grutas

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 187, 26 de Junho de 1998]

© Nuno Antunes (1998)

A Associação dos Espeleólogos de Sintra e a Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia promoveram uma acção de divulgação do “mundo subterrâneo”. O evento, que decorreu nos centros de interpretação do Cabeço de Pias e de Algar do Peno, foi dirigido a um grupo de crianças e aos seus pais, “para que não se repitam os erros do passado”.

A Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES) e a Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia (STEA) organizaram, num fim-de-semana de Maio passado, uma acção vocacionada para o ensino da espeleologia e conservação do património cársico. Esta actividade, que teve lugar no Centro de Interpretação Subterrâneo do Algar do Peno, no Maciço Calcário Estremenho, envolveu 26 crianças (com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos), dez pais, oito espeleólogos, dois psicólogos e uma animadora de campo e técnica ambiental.
Gabriel Mendes, espeleólogo da AES, referiu que a actividade foi essencialmente de carácter exploratório, tendo em vista “a avaliação da espeleologia como facilitador da aprendizagem e do desenvolvimento do comportamento individual e social da criança”. Nesse sentido, foram realizados jogos comportamentais e foram recolhidas, através do preenchimento de inquéritos, as expectativas anteriores à actividade e as percepções pós-actividade. As componentes interpretativa e de educação ambiental também fizeram parte do programa de actividades. As crianças contactaram, desse modo, com o “mundo subterrâneo” nas suas diversas facetas: a formação das grutas, as colónias de morcegos e os ecossistemas cavernícolas, as paisagens cársicas e a importância do meio como reservatório de águas doces, etc..
Na execução desta iniciativa foi seguida uma metodologia pedagógica, ainda em desenvolvimento, criada para a possibilitar a instalação e a prática de actividades de desporto-aventura, nomeadamente no que concerne à espeleologia.

Um novo ensino da espeleologia
Consciente da falta de legislação que enquadre a espeleologia e da carência de meios do movimento associativo, a AES está a desenvolver uma metodologia pedagógica assente em cinco objectivos: comportamentais, motores, técnicos, ambientais e científicos. O modelo aplicado à espeleologia foi traduzido numa “Tabela de Intensidades e Incidências” dos diferentes objectivos, relativamente à sua aplicação em cada fase da vida: infância (8-10 anos), pré-adolescência (11-12anos), adolescência I (13-14 anos), adolescência II (15-16 anos) e idade adulta (mais de 16 anos).
A coordenação do projecto está a cargo de Gabriel Mendes (espeleólogo da AES), contando igualmente com o apoio de dois psicólogos, João Antunes (da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias) e José Luís Nascimento (do Instituto Superior de Línguas e Administração). Dessa cooperação resultou “uma nova metodologia pedagógica onde é dada importância acrescida às componentes comportamentais”. O projecto está em fase avançada (sobretudo na faixa etária 11-12 anos) e já existem experiências piloto no terreno. A AES e o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) estão a executar uma experiência piloto, com a aplicação desta nova metodologia pedagógica a três níveis: um curso de monitores, um curso de coordenadores de actividades espeleológicas e um curso de iniciação à espeleologia. Os resultados dos estudos, ainda em desenvolvimento, serão apresentados no V Encontro Nacional de Espeleologia, que irá decorrer, em Sintra, no próximo mês de Outubro.
As expectativas criadas durante a actividade desenvolvida nos centros de interpretação do Cabeço de Pias e de Algar do Peno serão satisfeitas pela integração de um programa de formação a médio prazo, com a aplicação de metodologia dimensionada para os diferentes níveis etários. Esperam-se iniciativas semelhantes, tendentes a aperfeiçoar o ensino e a divulgação da espeleologia e do carso. Ao ensinar as crianças estar-se-á a assegurar um melhor futuro para a conservação do património subterrâneo. “Para não repetir os erros do passado.”.

10/09/2008

Espeleo-edições (II)

O SubTERRA – Grupo de Espeleologia, depois de enfrentar diversas dificuldades para editar o trabalho efectuado no Planalto de Sto. António, conseguiu obter os apoios necessários para a prossecução dos seus objectivos. A obra Lapas e Algares da Serra de Santo António – Planalto de Santo António/Maciço Calcário Estremenho (Portugal), da autoria de Fernando Canais e João Fernandes, foi editada em 1999.
O levantamento espeleológico das cavidades naturais da freguesia da Serra de Sto. António foi iniciado pelo SubTERRA (na altura CAIE – Centro de Actividades e Investigação Espeleológica), em Janeiro de 1995 e os trabalhos de campo foram concluídos em Abril de 1998. Ao longo destes três anos e quatro meses, o SubTERRA procedeu à prospecção e localização de cavidades na carta, tendo-se seguido a exploração e topografia das cavidades, tal como o registo fotográfico e anotações diversas sobre as cavidades existentes. Após uma breve introdução, o livro apresenta um enquadramento geográfico da área em estudo, bem como um curto enquadramento geológico. Segue-se o inventário de cavidades agrupadas por sub-áreas: Milheiriças, Crutos, Vale da Azinheira, Bajanca, Chousas e Vale do Pombo. Segundo os intervenientes no projecto: “O número elevado de cavidades encontradas obriga a prever a existência de mais, e por isso este trabalho nunca será completo.” Mas os espeleólogos envolvidos na elaboração do livro acreditam que o número de cavidades existentes e não mencionadas será reduzido.
A freguesia da Serra de Santo António é bastante conhecida no meio espeleológico português, tendo a maioria das cavidades sido já visitadas e exploradas. No entanto, este grupo de espeleologia pretendeu fazer um levantamento exaustivo das cavidades conhecidas, de forma a colmatar a escassez de informações sobre esta área do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros (PNSAC), apesar de existirem publicações referenciando algumas cavidades e o conjunto do Maciço Calcário Estremenho.
Lapas e Algares da Serra de Santo António foi editado com o apoio do Instituto Português da Juventude (IPJ), Governo Civil do Distrito de Santarém, Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB), Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE), Câmara Municipal de Torres Novas, Junta de Freguesia da Serra de Santo António e Câmara Municipal de Alcanena.

Espeleo-edições (I)

Espeleologia
Editar um livro

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 194,14 de Agosto de 1998]

Planalto de Sto. António © SubTERRA (1997)

A associação espeleológica SubTERRA realizou um inventário das grutas e algares da freguesia da Serra de Sto. António. Agora pretende ver o trabalho publicado, mas as dificuldades são muitas. O eterno problema da falta de meios de que os espeleólogos se queixam.

O Grupo de Espeleologia SubTERRA, sediado em Torres Novas, desde a sua fundação (em 1993) que vem desenvolvendo um trabalho contínuo de inventariação das cavidades da freguesia de Serra de Sto. António. A Forum Ambiente esteve com o grupo SubTERRA, no lugar de Vale do Pombo (Planalto de Sto. António), para visitar o Algar da Marradinha do Daniel (também denominado “Algar do Mata Cães”) e conhecer essa associação espeleológica. Associação que pretende editar uma compilação dos trabalhos realizados, mas que se depara com diversas dificuldades.

Grutas e Algares de Sto. António
Algar do Alto dos Crutos, Algar do Alto dos Crutos II, Gruta da Arroteia Nova, Algar da Arroteia Nova, Cova do Penedo Padrão, Lapa da Marradinha, Algar das Covas Giesteiras, Algar dos Penedos da Queimada, são algumas das muitas grutas e algares da freguesia de Serra de Sto. António. Actualmente, o grupo SubTERRA conta com cerca de 80 cavidades devidamente inventariadas e topografadas. “a cota mais profunda, menos 85 metros, encontra-se nas galerias maiores da Gruta das Marradinhas, também conhecida por Marradinhas 2”, esclarece Fernando Canais, da SubTERRA. “O Algar do Leitão é a maior vertical directa, com 27 metros, e o Algar da Chapa, o mais profundo, com 69 metros divididos por troços”, salienta João Paulo Fernandes, da mesma associação.
Os trabalhos de campo resultaram num volumoso conjunto de dados e topografias. Material que, após compilação efectuada por Fernando Canais, João Paulo Fernandes e Maria Moleiro, permitiu a feitura de trabalho que a SubTERRA pretende ver agora publicado. A compilação, em que também participaram Carlos Ribeiro e Pedro Mesquita, está, no entanto, com dificuldades para ver a luz do dia. O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) não apoiou a edição da obra e os espeleólogos aguardam melhores notícias de outros possíveis “patrocinadores”.

Livros sobre cavernas?
Em Portugal, a bibliografia “espeleológica” apesar de ser numerosa é bastante específica. Os trabalhos, alguns remontando ao século passado [séc. XIX], dedicam-se sobretudo a aspectos ligados à arqueologia e à biologia. “Antiguidades Monumentaes do Algarve” (1886), de Estácio da Veiga, “Reconhecimento Scientifico dos Jazigos de Marmore e de Alabastro de Santo Adrião e das grutas comprehendidas nos mesmos jazigos” (1887), de Nery Delgado, “A importância das grutas em Pré-História” (1963), de G. Zbyszewski ou “Voyage au Portugal du Dr. K. Lindberg (Resultats Zoologiques)” (1962), onde se encontra o trabalho de Lindberg “Notes sur quelques grottes et aperçu de leurs faune”, são somente alguns exemplos.
Pelo contrário, os trabalhos que focam o carso, propriamente dito, ou as grutas, como objecto de estudo em si, são bastante mais raros. O primeiro texto dedicado às grutas nacionais, “Portugal Subterrâneo – Ensaio de Espeleologia Portuguesa” (1925), deve-se a Ernest Fleury. Esse autor já tinha, aliás, publicado outros trabalhos, de que se destacam: “Sur la morphologie du Massif de Porto-de-Moz” (1916), “Sur l’Hidrologie Souterraine de l’Alviela” (1916) e “Les lapiés des calcaires au nord du tage” (1918).
O “Inventário das cavernas calcárias de Portugal” (1948), de António de Barros Machado e Bernardino de Barros Machado, ainda é uma obra de referência, pois indica 343 cavidades. A Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE) publicou, em 1974, o “Inventário das Grutas de Portugal: I – Concelho de Vila Nova de Ourém”, onde se referem 53 cavidades. “Cavernas com interesse cultural encontradas em Portugal” (1982), de Octávio da Veiga Ferreira, apresenta cerca de 90 cavidades. “Grottes et Algares du Portugal” (1985), de C. Thomas, aborda as cavidades do Maciço Calcário Estremenho. Os exemplos não são muito mais.
As revistas e pequenas publicações de clubes começaram a surgir tímida e tardiamente fornecendo igualmente informações acerca de diversas cavidades. “Algarocho” (1976) e “Algar” (1987), da SPE; “A Gruta”, do Clube de Espeleologia de Coimbra (1977); “Espeleo Divulgação” do Núcleo de Espeleologia da Associação dos Estudantes da Universidade de Aveiro (1982); “Morcego” do Núcleo de Espeleologia do Centro de Estudos e Protecção do Património de Tomar (1983); “Almondinha” da Sociedade Torrejana de Espeleologia (1987); “Trogle” da Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente de Torres Vedras (1995), etc..
Os arquipélagos dos Açores e Madeira não ficaram esquecidos. “Notas sobre a “Furna de Henrique Maciel (Pico, Açores)” (1963), de V. H. Forjaz, ou “Contribuição para o estudo espeleológico da Ilha do Pico (Açores)” (1972), de Luís M. Arruda são apenas dois exemplos. Sem esquecer “Caves and Pits from the Azores with some Coments on their Geological Origin, Distribution and Fauna” (1992), de P. A. V. Borges, A. Silva e F. Pereira, apresentado no 6º Simpósio Internacional de Vulcanoespeleologia (Havai, Agosto de 1991) ou “Caves ans Pits from the Azores. II – An Annotated Checklist” (1993), dos mesmos autores.
E. A. Martel, considerado o pai da espeleologia escreveu no seu livro “Les Abîmes” (1894): “Les sous sol de l?Espagne et du Portugal a été moins explore même que celui de l’Italie”. Actualmente existe bem mais informação acerca dos carsos e cavernas de Portugal. Mas, há ainda muito por fazer, nomeadamente no que se refere à edição de trabalhos realizados. Refira-se, a titulo de curiosidade, que A. e B. de Barros Machado no seu inventário (1948) indicam somente a existência de uma cavidade (Algar da Cheira) na freguesia de Serra de Sto. António. A SubTERRA já inventariou 78 grutas e algares, mas não encontra os meios necessários para editar a compilação realizada. A eterna falta de meios de que se queixam os espeleólogos e que resulta frequentemente na perda de informações, quantas vezes, irrecuperáveis.

Crime violento

Penínsulas Lisboa/Setúbal ©

Não, não é só no Algarve (no Allarve, quereria eu dizer!) que se encontram gritantes situações de desordenamento do território. Infortunadamente a ocupação desregrada do território, o caos urbanístico e a degradação da paisagem e do ambiente ocorrem mais ou menos de norte a sul do país, incluindo regiões autónomas (como não poderia deixar de ser!).
O orden(h)amento do território na Península de Lisboa, onde também ocorrem fenómenos cársicos tal como no Algarve (entre outras "coincidências"), toma proporções especialmente gravosas se tivermos em conta que aí se aglomera cerca de um terço da população portuguesa. O fenómeno tem repercussões a nível paisagístico e ambiental, mas não devemos ignorar os gravíssimos problemas sociais que daí advêm e, sobretudo, “o modelo de sociedade em que vivemos” de que resultam muitos dos problemas aqui focados.
Francisco Moita Flores escreveu, na última edição da Notícias Magazine (suplemento do Diário de Notícias nº 50926, de 7 de Setembro) um artigo de opinião sobre “Crime violento”. Nessa peça, Moita Flores expressa de forma bem clara que as implicações do desordenamento do território vão bem mais além do que as simples questões ambientais…
(…) Julgo, porém, que no território das causas existe outra ordem de reflexão, a política, que determinou o modelo de sociedade em que vivemos. Cheia de desequilíbrios demo-urbanísticos (em torno de Lisboa vivem três milhões de almas que participam em 52 por cento dos crimes que existem no país), ausente de políticas de ordenamento do território, satisfeita com remendos ou foguetes no que respeita às políticas sociais, indiferente às alterações dos territórios do prazer, do risco, dos negócios clandestinos. Sem uma política nacional concertada de combate, a longo prazo, às assimetrias, à exclusão, ao desemprego, à solidão e sem uma visão estratégica da sociedade de anciãos que estamos a construir. A conflitualidade, as manifestações da agressividade, a evidência continuada da violência criminal, são matérias exclusivamente do foro político, e só muito depois das incompetências ou competência policiais.

A agonia dos peixes...

Alviela ©

A Comissão de Ambiente e Defesa da Ribeira dos Milagres denunciou, no passado sábado (dia 6 de Setembro), a ocorrência de uma descarga “impressionante” de efluentes suinícolas naquele curso de água, afluente do rio Lis. O porta-voz da comissão, Rui Crespo, considerou que se tratou de “uma descarga considerável” e classificou a situação como “grave”. Para além de referir que a situação comporta uma gravidade acrescida por ocorrer na época balnear, Rui Crespo referiu ainda que “de certeza absoluta, a influência desta descarga tem de se notar na Praia da Vieira”. O dirigente daquele organismo apercebeu-se da descarga na sexta-feira à noite (dia 5 de Setembro), tendo alertado a GNR do sucedido. "Liguei e disseram-me para telefonar a partir das 9:15 porque não estava lá ninguém do serviço ambiental", afirmou Rui Crespo, considerando "não ser esta a resposta que as autoridades devem dar perante mais um atentado ambiental". Quem efectuou as descargas ter-se-á aproveitado “da chuva, da noite, do fim-de-semana”, combinação “useira e vezeira para a ocorrência de descargas”.
Por seu lado, o presidente da Junta de Freguesia de Vaqueiros denunciou mais “uma mortandade de peixes no rio Alviela”. Firmino Oliveira disse à agência Lusa que, ao princípio da tarde de segunda-feira (8 de Setembro), centenas de peixes “enormes” começaram a aparecer dando sinais de falta de oxigénio. Segundo disse, tudo indica que houve mais uma descarga, que atribuiu à estação de tratamento de águas residuais de Alcanena, uma vez que “não há pecuárias a montante da freguesia e o forte cheiro que se sente é a crómio”.
Firmino Oliveira disse que os moradores da zona do mouzeiro começaram a sentir “um forte cheiro” de manhã, tendo começado a aparecer, ao princípio da tarde, peixes em agonia. “É um inferno assistir a este agonizar dos peixes”, afirmou.

Alviela © Dias dos Reis (2007)

05/09/2008

Porque é inútil...


O famoso espeleólogo francês Norbert Casteret refere, na obra Dez anos debaixo da Terra (Editora Martins Tavares, 1945) [Dix ans sous terre (Librairie Académique Perrin, 1933)], acerca do final de uma sua exploração subterrânea, o seguinte:

(…) escrevi com a minha faca, sobre a argila mole do chão, as palavras que Rostand pôz na boca de Cyrano:

…Et c’est bien plus beau lorsque c’est inutile.
”*

Não será por acaso que o também famoso alpinista francês Lionel Terray, anos mais tarde, publicou a obra Os Conquistadores do Inútil (Verbo, 1974) [Les Conquérants de l'Inutile (Gallimard, 1963)].


*O escritor francês Edmond Rostand criou a comédia dramática Cyrano de Bergerac em 1897.

Até ao fundo... (VIII)

Grotta Pellerina (Itália) © (2007)

No tocante a um comentário de um instrutor num curso de manobras de corda sobre não ser permitido fumar quando se trabalha com cordas (o que se estenderá a cordeletas e fitas) por estas serem altamente susceptíveis ao fogo, ocorreu-me questionar se este tipo de raciocínio não se enquadrará mais num posicionamento simplesmente antitabagista do que numa real problemática de acidentes com cordas. Claro que esta linha de raciocínio provém da área dos desportos de montanha, mais precisamente do montanhismo e disciplinas afins, mas o que dizer quando estamos no âmbito da espeleologia? Qual a susceptibilidade real de cordas semi-estáticas do tipo A ao fogo? Pode a chama de um gasómetro causar um acidente devido à “destruição” de uma corda? Já ocorreu algum acidente? E mesmo que nunca se tenha registado nenhum acidente do género: tal devia ser tido em consideração em algares ou poços mais ou menos estreitos?
Grotta Galermi (Itália) © (2007)

Até ao fundo... (VII)

A propósito dos posts Até ao fundo, de I a VI, sobre quedas em algares e, sobretudo, o Até ao Fundo III, de 14 de Julho, sobre Como desgraçar a vida em 7.2 s ou haveria tempo para largar a corda?, não podemos deixar de referir, nessa matéria, um pequeno trecho do livro Para uma Crítica Libertária do Direito (Edições Sotavento, 2008), do nosso conterrâneo Júlio Carrapato. Apesar de a obra não tratar, de todo, de assuntos que tenham a ver com espeleologia, a abordagem que é feita sobre as leis da física é tão pertinente quanto deliciosa. De facto, não devemos ignorar as leis da física, tal como também ficou demonstrado, nos posts referidos, que não convém desconhecer as subtilezas da neurobiologia, nomeadamente no que concerne à inteligência emocional, ao condicionamento clássico ou à memória dos actos motores. Aqui fica:

(…) não se pode viver na ignorância das leis da física (da lei da gravidade, por exemplo, quando se caminha à beira de um precipício, ou da lei do movimento uniformemente acelerado, quando já se vem em queda livre!) (…)


© Cartoonistgroup

04/09/2008

Livro sobre Montejunto

A Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE) acaba de editar o livro Património Geológico da Serra de Montejunto, da autoria de José António Crispim. O autor, geólogo e espeleólogo, professor do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), dispensa apresentações no meio espeleológico português.
Esta obra foi editada com o apoio da Associação de Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros (ADSAICA) e do Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CeGUL).
Património Geológico da Serra de Montejunto pode ser adquirido directamente na sede da SPE ou encomendado através do endereço spe@spe.pt.

Paperless Cave Surveying


Um novo e interessante projecto de topografia espeleológica denominado “Paperless Cave Surveying” foi apresentado, no IV Congresso Europeu de Espeleologia Vercors 2008, pelo espeleólogo suíço Beat Heeb, da Swiss Speleological Society.
Este sistema de topografia integral, consta de dois aparelhos: um combinado de distanciómetro/bússola/clinómetro e um programa para PDA que permite gerir os dados medidos e desenhar directamente no ecrã. Os dois aparelhos estão ligados, sem fios, por bluetooth. Em poucos segundos os dados obtidos pelo “medidor” são visualizados no ecrã da PDA. Os resultados podem ser transferidos para um PC, de modo a serem usados por outros programas de topografia ou editores gráficos. O Espeleobloc reproduz, na íntegra, o paper apresentado no IV Congresso Europeu de Espeleologia.


Fonte : Espeleobloc

[A propósito deste post, o nosso amigo Javier Aradas Marinas enviou-nos, por e-mail, uma ligação sobre o Pocket Topo. O nosso muito obrigado e um abraço. ]

Concurso Internacional

O Grupo Espeleológico Ribereño está a organizar o XXXI Concurso Internacional de Fotografia Espeleológica.
Para mais informações, consulte: http://www.tic.udc.es/~nino/blog/2008/ger-fotografia-2008.pdf.

Solitário (II)

Parque Natural da Arrábida
Espeleólogos indignados

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 177, 17 de Abril de 1998]

Mata do Solitário © Joana Santos

Um guarda da natureza do Parque Natural da Arrábida multou o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul, quando realizava uma actividade de prospecção e fotografia, situação que foi qualificada pela autoridade em causa como uma actividade de “lazer” numa zona interdita ao público. Os espeleólogos estão indignados e já contestaram os autos. A actividade levantou antigas polémicas que parecem não ter fim, numa região onde espeleologia e conservação deviam andar de mãos dadas.

Durante trabalhos de prospecção e fotografia, três elementos do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) foram multados por um guarda da natureza do Parque Natural da Arrábida (PNA). Foi no dia 11 de Fevereiro passado, mais precisamente às 17 horas. A infracção consistiu na “circulação e actividade de lazer dentro da Mata do Solitário”, reserva integral onde o acesso ao público é proibido. Não se fazendo acompanhar da respectiva autorização, os elementos do NECA estavam em infracção perante o art. 5º (alínea A) do Decreto-Lei nº 622/76, de 28 de Julho, conjugado com o artº 8º da Portaria nº 26-F/80, de 9 de Janeiro. À partida, a aplicação da multa não levantaria dúvidas, mas parece não ter acontecido assim. Os espeleólogos estão indignados, pois afirmam que estavam a fotografar plantas para o Museu Oceanográfico do PNA, quando foram multados pelo próprio Parque. O NECA contactou de imediato Ricardo Paiva, director do PNA, de modo a esclarecer o sucedido. Segundo Francisco Rasteiro, do NECA, Ricardo Paiva afirmou que a actuação do guarda teria sido exagerada, mas que devia ter sido pedida autorização, por escrito, para a realização dos trabalhos na Mata do Solitário, autorização que teria sido concedida “sem problemas”, segundo o director do PNA. No dia seguinte, foi pedida autorização, mas como resposta, “o NECA apenas recebeu três autos de notícia”, refere Francisco Rasteiro.

Estudo, trabalho, recreio ou lazer?
Em carta datada de 12 de Fevereiro, foi requerida autorização “para a entrada de alguns membros activos do NECA na Mata do Solitário, a fim de fazerem um reconhecimento e uma inventariação da Lapa do Solitário”, afirma a fonte do NECA. Foi pedida, igualmente, a autorização para a realização de actividades de prospecção de cavidades e registo da vegetação circundante da Serra do Risco e do monte Formosinho. Na mesma carta informava-se ainda que o número de elementos por equipa de trabalho não ultrapassaria os quatro, avançando os nomes das seis pessoas envolvidas.
O auto de notícia (nº 6), endereçado a Francisco Rasteiro, em carta registada de 23 de Março, foi recebido com surpresa e indignação, bem como os outros dois autos, enviados aos restantes espeleólogos que se encontravam na Mata do Solitário. Uma surpresa que as excelentes relações entre o NECA e o PNA não faziam esperar. O NECA sempre deu todo o apoio ao PNA: ajudou o PNA em relação à protecção da Gruta do Zambujal, no que concerne à intenção de a fechar, participou em reuniões, fez visitas com o director “à entrada da gruta”, disponibilizou-se para efectuar a topografia da cavidade e realizou uma campanha de limpeza da Arrábida em 1997, em colaboração com o PNA. “Temos participado activamente na defesa do património natural do PNA”, salientou Francisco Rasteiro à FORUM AMBIENTE.
O NECA considera “muito salutar a vigilância eficaz da área d PNA, nomeadamente nas suas áreas de reserva integral”, mas a consternação face à atitude do Parque é marcante. Aliás, foi endereçada ao director do PNA uma carta, datada de 31 de Março, contestando as multas aplicadas e pedindo que estas fossem reconsideradas. A contestação prende-se com o valor da multa e também com a “forma ambígua com que se desenrolou o processo”, esclarece a fonte do NECA, pois entre o valor de 1500 a 30 mil escudos, foi aplicada uma multa de 5 mil escudos a cada um dos espeleólogos, em vez de lhes ser aplicada a multa de valor mínimo. “Dá-nos a sensação de já sermos reincidentes, mas não sabemos bem em quê”, desabafou Francisco Rasteiro, acrescentando que devia ter havido “mais pedagogia na atitude do PNA (aviso registado e repreensão)”. Para os espeleólogos é ainda estranho que, estando quatro pessoas do NECA na Mata do Solitário, só três tenham sido autuadas. A indignação aumenta ainda mais porque os elementos do NECA estavam a efectuar fotografias sobre a vegetação da Arrábida, “encomendadas pelo Museu Oceanográfico do PNA” e o reconhecimento de uma cavidade, actividades que o PNA considerou tratar-se de “lazer”. Indignação também pelos inúmeros problemas que se encontram por resolver e pelos diversos atropelos à lei, quase sempre ignorados: pedreiras a menos de 500 metros de distância de sítios de grande interesse cultural, camiões invariavelmente sem cobertura, derrames de óleos para a rede subterrânea, lixo na Mata do Solitário,…

Pontos quentes
A Gruta do Zambujal passou, no ano transacto, para a alçada do PNA (ver jornal FORUM AMBIENTE nº 159, de 12 de Dezembro de 1997). Contudo, o Sítio Classificado da Gruta do Zambujal continua desprotegido. Segundo Francisco Rasteiro, foi dito pelo director do PNA que até ao final de Fevereiro deste ano o caso da Gruta do Zambujal estaria resolvido e que as pedreiras não avançariam para oeste. Mas não foi isso que aconteceu. As pedreiras estão em laboração e, até hoje, pouco ou nada foi feito para salvaguardar a Gruta do Zambujal.
O plano de ordenamento turístico da Arrábida estaria em consulta pública no início de 1998 (ver jornal FORUM AMBIENTE nº 158, de 5 de Dezembro de 1997), integrado na reclassificação do Parque. A primeira e a segunda fases do estudo de ordenamento já se encontram concluídas, mas os trabalhos pararam, aguardando os resultados do programa nacional de turismo de natureza. Na reclassificação do PNA, o Cabo Espichel iria fazer parte do Parque, mas a Gruta do Zambujal e o vale da ribeira do Cavalo, bem como as zonas sensíveis do ponto de vista da construção clandestina, estavam, à partida, excluídas.
O NECA manifestou-se contra a destruição da base oeste da Serra do Risco pelas pedreiras (ver jornal FORUM AMBIENTE nº 137, de 11 de Julho de 1997), enquanto que “a única coisa que o PNA fez foi proibir as pessoas de irem à Serra do Risco”, esclarece Francisco Rasteiro. A área assinalada como reserva geológica em antigos panfletos do Parque está interditada para que os visitantes não incomodem a fauna e a flora, ou talvez, para que não vejam o que a indústria extractiva anda a fazer. O NECA soube, através de um funcionário da pedreira, que irão “cavar” toda essa área em cerca de 60 metros de profundidade. Se as pessoas “estragam e incomodam”, o que fazem as pedreiras?
O plano de recuperação paisagística das pedreiras devia ter sido entregue até ao final de Novembro de 1997. Nesse mês limite, o director do PNA afirmou que o prazo se alargava até Dezembro. Questionado pelo NECA em Fevereiro de 1998, o director referiu que a recuperação estava a cargo da Secretaria de Estado dos Recursos Naturais. “Hoje ninguém sabe o que se passa. A única coisa que se vê são os buracos cada vez maiores. E a recuperação onde está?”, pergunta Francisco Rasteiro.
A FORUM AMBIENTE tentou saber a posição do director do PNA, Ricardo Paiva, mas este esteve incontactável até ao fecho da edição. Até hoje, ainda não houve resposta ao pedido de autorização de 12 de Fevereiro, bem como à contestação de 31 de Março. Com certeza, a polémica não irá ficar por aqui, pois são demasiados, os hot-spots que impedem a cooperação entre o NECA e o PNA.

03/09/2008

Morte de morcegos

A propósito da posta "Ai o raio das ventoinhas" que colocámos no Spelaion, no dia 27 de Agosto, sobre a elevada taxa de mortalidade de morcegos devido ao abaixamento da pressão atmosférica resultante do funcionamento de aerogeradores, aqui fica um pequeno filme sobre o estudo em causa.

Solitário (I)

Mata do Solitário © Joana Santos

No jornal gratuito Metro - Edição Lisboa/Sul (Ano 5, nº 825), de hoje, deparamos com a seguinte notícia, na rubrica “Fim-de-semana aventura”:

Espeleologia
Sesimbra

ACTIVIDADE No sábado, experimente a espeleologia na Lapa do Médico, gruta ideal para o desenvolvimento de técnicas de progressão. Com passagens estreitas entre salas, a geologia é diversa nesta gruta.
Mais informações em:
www.vertentenatural.com.” (sic.)

E eu que pensava que a Lapa do Médico se localizava na Mata do Solitário e que esta era Reserva Integral! Portanto, só poderia ser visitada “por razões de investigação e divulgação científica”, “para monitorização ambiental e para a realização de acções de salvaguarda da área e dos interesses de conservação que levaram à sua classificação” ou por motivos de “vigilância e fiscalização”. A ignorância é terrível, não é?
Longe não vão os tempos em que o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) foi multado por ir a essa gruta! Não há dúvida que realmente “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Já agora, aproveito também para apresentar umas imagens, que se encontram no profícuo You Tube, sobre a Gruta do Médico.

Limpeza e Educação Ambiental

Espeleologia
Costa limpa em Torres Vedras


[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 198, 11 de Setembro de 1998]

O Espeleo Clube de Torres Vedras e a Associação de Defesa do Património de Torres Vedras realizaram este ano mais um “Costa Viva 98”. Pelo quarto ano consecutivo, alunos e professores de diversas escolas do concelho reuniram-se para limpar a costa.

Costa de Sintra © Pedro Cuiça (2006)

Pelo quarto ano consecutivo decorreu, no concelho de Torres Vedras, mais uma actividade de limpeza do litoral “Costa Viva 98”. Esta iniciativa foi organizada pelo Espeleo Clube de Torres Vedras (ECTV) e pela Associação de Defesa do Património de Torres Vedras (ADPTV). A acção de limpeza, realizada no litoral do concelho de Torres Vedras (entre Porto Novo e Santa Cruz), contou com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras (CMTV) - Sector de Higiene e Limpeza Pública e Sector do Ambiente, do Instituto Português da Juventude (IPJ) - Delegação Regional de Lisboa e do Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB).

“Costa Viva é Costa Limpa”
“Costa Viva é Costa Limpa” foi a mensagem que inspirou, pela primeira vez, em 1995, a limpeza das arribas do concelho de Torres Vedras. O trabalho foi efectuado com base nos resultados obtidos na participação em acções de costwatch, levadas a cabo em 1993 e 1994. Estas acções incidiram sobretudo em determinadas áreas onde existiam, e se mantêm, quantidades significativas de lixo: Alto da Vela, Azenha de Santa Cruz, Praia do Amanhã, Água do Seixo, etc..
Os resultados dos trabalhos efectuados em 1995, 96 e 97, realizados por cerca de 600 participantes (envolvendo duas associações, a autarquia e escolas), traduziram-se num “record da vergonha”: mais de 14 toneladas de lixo recolhido. Depois da limpeza foram colocadas placas nos pontos de maior sensibilidade e de mais fácil acesso, contendo mensagens destinadas a todos os utilizadores que frequentem as áreas, com especial incidência para os cidadãos e empresas menos escrupulosas.
Os organizadores do “Costa Viva 98” pretenderam, na sequência das anteriores acções, sensibilizar a população para os problemas ambientais relacionados com a defesa e a conservação das áreas litorais, possibilitar a participação dos jovens em acções de educação ambiental e de defesa do património, aliviar a costa de parte dos resíduos aí existentes e pressionar as entidades públicas no sentido de encontrarem soluções mais eficazes para dar resposta a este e outros problemas de degradação do litoral.
A actividade, como já é tradição, foi proposta a todas as escolas do concelho de Torres Vedras e contou, pela primeira vez, com a participação de alunos de uma escola do concelho de Bombarral. A organização determinou, a fim de mitigar possíveis impactes, um número limite de participantes (incluindo obrigatoriamente um professor para cada 15 alunos).
Para além de um folheto informativo sobre a degradação das áreas litorais e material específico para as tarefas de limpeza (luvas, pás, sacos), foi ainda distribuído material promocional da campanha de limpeza. Os participantes foram ainda brindados com um almoço convívio.
Os campos e as praias portuguesas não são um caixote de lixo, mas infelizmente alguns agem como se o fossem. Actividades de limpeza e educação ambiental serão sempre bem vindas.

02/09/2008

A maior...

Não, não se trata da maior tirolesa do Mestre Eusébio. Nem sequer de uma mostra do género "a minha é maior do que a tua"! Esta será mesmo a maior tirolesa do mundo em corda e foi montada pelo “Spéléo Secours” francês durante o "Vercors 2008". O nosso muito obrigado e um abraço ao amigo Laurent Poublan por nos ter brindado, por e-mail, com semelhante surpresa.

Espeleoconservação (II)

Espeleologia
Proteger o mundo subterrâneo

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 252, 12 de Outubro]

© Algarve

A criação de instrumentos legais específicos para o mundo subterrâneo tornou-se premente. Jean-Pierre Bartholeys revelou o estatuto de cavidade subterrânea de interesse científico.

A conservação do património espeleológico constitui uma crescente preocupação face aos diversos atentados a que está sujeito. Preocupação que se faz sentir não só em Portugal, como na Europa e um pouco por todo o mundo onde existem regiões cársicas. O tema, pela sua actualidade e importância, não passou ao lado do III Congresso Europeu de Espeleologia, realizado em Lisboa de 1 a 3 de Outubro. De entre as comunicações, que abordaram aspectos ligados à protecção dos ambientes cársicos, destaca-se “Um estatuto de cavidade subterrânea de interesse científico para proteger os meios naturais subterrâneos de Wallonie”. A comunicação a cargo de Jean-Pierre Bartholeyns, presidente da Comissão de Protecção do Carso e das Grutas da União Internacional de Espeleologia, revelou a necessidade da criação de instrumentos legais específicos para o mundo subterrâneo. É que “o meio subterrâneo é frágil e deve ser protegido de diversas agressões que colocam em perigo a sua conservação e de todas as riquezas biológicas, mineralógicas, geológicas e arqueológicas que lhe estão associadas”, lembrou Bartholeyns.

Biótopos de interesse
A importância das espécies e dos biótopos cavernícolas começa a ser reconhecida a nível europeu. Por exemplo, os morcegos estão contemplados no Anexo 2 da Directiva Habitats como espécie de interesse comunitário a proteger prioritariamente e o ano de 1998, consagrado às zonas húmidas, incluiu as zonas húmidas subterrâneas entre os meios a proteger. Mas o mundo subterrâneo não escapa a múltiplas agressões: é ameaçado por poluição, por intervenções turísticas, por perturbações e depredações devidas a sobrefrequentão das grutas ou por destruição pura e simples.
Um novo atentado à integridade do meio subterrâneo está ligado ao fenómeno do desporto-aventura, em que numerosas cavidades são alugadas ou compradas por operadores turísticos. A exploração “desportiva” e comercial dessas grutas, que se tem vindo a incrementar desde 1995, é causadora de depredações geralmente irreversíveis. O estado das cavidades e as múltiplas agressões a que estão sujeitas apelam a uma protecção urgente.
A legislação que transpõe as directivas europeias em matéria de ambiente podem ser aplicadas ao meio subterrâneo, mas é “insuficiente e exige geralmente procedimentos longos e difíceis”. Razão pela qual, por iniciativa da Comissão Wallone de Estudos e de Protecção de Sítios Subterrâneos (Commission Wallonne d’Etudes et de Protection des Sites Souterrains - CWEPSS) e de diversos organismos científicos, a região estabeleceu o estatuto de Cavidade Subterrânea de Interesse Científico (Cavité Souterraine d’Intérêt Scientifique - CSIS). Medida que permitiu, pela primeira vez, a efectiva protecção e conservação segundo uma base legal específica e adaptada às cavidades subterrâneas, no quadro da Directiva Habitats (CEE - Natura 2000).
Uma cavidade pode ser reconhecida pelo interesse científico logo que apresente valores biológicos a defender, presença de formações geológicas, petrográficas ou mineralógicas raras ou testemunhos arqueológicos.
Uma cavidade reconhecida pelo interesse científico não poderá em caso algum ser objecto de destruição mesmo que parcial, de deteorização por exploração directa de matérias primas, por exploração turística ou desportiva, por poluição ou por outra forma de intervenção voluntária que conduza a uma redução do seu interesse científico.

Espeleoconservação (I)

Valorizar o património espeleológico

[ACTUAL ● Jornal Forum Ambinte nº 252, 12 de Outubro de 1999]


© Porto Covo

Mais de vinte países reunidos em Lisboa, no Congresso Europeu de Espeleologia, decidiram criar um grupo de trabalho para elaborar uma carta europeia para valorização deste património. Portugal disponibilizou-se para a fase de arranque da ideia.


Congresso Europeu Espeleologia
Grutas para o futuro

Lisboa acolheu o III Congresso Europeu de Espeleologia, onde se comemorou o 50º aniversário dos pioneiros desta actividade em Portugal e se desenvolveram diversas iniciativas em prol do mundo subterrâneo.

A necessidade dos espeleólogos efectuarem iniciativas para a protecção e a conservação das grutas (veja rubrica FORA DE PORTAS), velarem pela salvaguarda das águas subterrâneas e das paisagens próprias das regiões cársicas foram ideias fortes expressas na moção apresentada no III Congresso Europeu de Espeleologia. A iniciativa decorreu, de 1 a 3 de Outubro, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
A moção, que merece destaque entre as iniciativas que decorreram durante o congresso, foi apresentada por Jean-Pierre Bartholeys, Presidente da Comissão de Protecção do Carso e das Grutas da União Internacional de Espeleologia, no encerramento do simpósio sobre “Promoção das grutas turísticas e suas regiões”. Os objectivos da moção devem-se inscrever no quadro de uma gestão rigorosa, inteligente e científica do ambiente e dos recursos naturais. A protecção não se limita à aplicação de leias ou regulamentos existentes, envolve a concepção de instrumentos originais e inovadores que tenham em conta a especificidade de cada região e onde as decisões de gestão sejam tomadas pelo(s) proprietário(s) do(s) terreno(s), cientistas, espeleólogos e entidades competentes. Essa moção propôs ainda um “Ano Europeu das Grutas Turísticas”, para 2000, ideia que encontra a sua justificação natural no facto dessas cavidades representarem a vitrina ideal para a compreensão da necessidade de proteger o património subterrâneo comunitário, milenário e sensível. Segundo Bartholeyns: “As nossas motivações uma vez compreendias farão com que a beleza do mundo subterrâneo seja respeitada ao longo de gerações”.

Carta espeleológica europeia
A moção do simpósio sobre “Protecção e conservação das grutas e das regiões cársicas”, apresentada por Olímpio Martins, também será de salientar pelas suas implicações ambientais. Face às inúmeras pressões a que estão sujeitas as grutas e regiões cársicas, que fundamentalmente advêm do mau uso do território, e dada a responsabilidade que a comunidade espeleológica detém sobre esta matéria, os participantes no congresso sugeriram a implementação de diversas medidas. A Federação Europeia de Espeleologia deverá providenciar e promover acções concretas que conduzam à valorização e conservação do património espeleológico europeu, bem como desenvolver estratégias que permitam assumir-se como um importante grupo de pressão.
Também foi apontada a criação, até ao final do corrente ano, de um grupo de trabalho, formado por elementos de cada país membro. Grupo de trabalho encarregue deelaborar, até 2001, uma proposta de uma carta europeia para a valorização e conservação do património espeleológico e potenciar a Directiva Habitats, nomeadamente através dos artigos referidos no Anexo 1 (habitats rochosos e grutas não turísticas). Portugal disponibilizou-se para a concretização dos procedimentos necessários à fase de arranque da moção.
A organização do congresso esteve a cargo da Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE) e da Federação Espeleológica da Comunidade Europeia (Speleological Federation of the European Community - SFEC). O úmero de participantes ultrapassou as duas centenas e estiveram representados mais de 20 países, para além do organizador (Portugal).


Meio século de espeleologia

Os cinco simpósios do III Congresso Europeu de Espeleologia foram subordinados aos temas “Importância da espeleologia no progresso das ciências afins”, “Protecção e conservação das grutas e das regiões cársicas”, “Promoção das grutas turísticas e suas regiões”, “Influência da espeleologia no despertar das vocações da juventude” e “50º Aniversário da SPE”.
O simpósio sobre o 50º Aniversário da SPE realizou-se no dia 2 de Outubro, tendo contado com a participação do actual presidente dessa sociedade espeleológica, José António Crispim, e de dois sócios fundadores, Américo Condinho, o primeiro construtor de material de espeleologia em Portugal, e Alves Pereira. A SPE é a associação pioneira, desde 1948, da espeleologia organizada em Portugal, agrupa diversos especialistas da matéria e procura divulgar a modalidade nomeadamente com o intuito de despertar novas vocações.

Provas dadas
A idoneidade da SPE, reconhecida a nível nacional e internacional, é testemunhada pelas inúmeras solicitações, da parte de organismos públicos e de entidades privadas, para esta efectuar estudos especializados ou fornecer pareceres nas suas áreas de actuação. Idoneidade mais uma vez confirmada pelo empenho na organização do III Congresso Europeu de Espeleologia que trouxe a Portugal espeleólogos de variados pontos do globo.
O III Congresso Europeu de Espeleologia, cujas sessões centrais se realizaram no edifício C3 da FCUL, contou com a apresentação de comunicações, posters e exposições, projecção de filmes e de diapositivos, venda de livros e de material de espeleologia, entre outras iniciativas. As actividades pré e pós congresso incluíram excursões e saídas de campo nomeadamente nas regiões do Alentejo, Algarve e Açores.

© Algarve

[A publicação desta peça jornalística, no dia de hoje, prende-se apenas com o facto de, após quase um década passada sobre a realização do III Congresso Europeu de Espeleologia, realizado em Lisboa, ter terminado no passado domingo (30 de Agosto) o IV Congresso Europeu de Espeleologia, organizado pela Federação Francesa de Espeleologia (FFS), na região do Vercors.
Durante o III Congresso Europeu de Espeleologia a SPE comemorou meio século de existência e, este ano precisamente, comemora 60 anos de actividade. Uma bonita idade para comemorar e nos congratularmos independentemente das divergências intestinas existentes, mais ou menos manifestas ou encobertas, no meio espeleológico português.]

01/09/2008

Espeleótopos

Património espeleológico
Longe da vista, longe da protecção

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 184, 5 de Junho de 1998]

Gruta do Zambujal (Arrábida) © Francisco Rasteiro (1995)

As grutas, as rochas e as montanhas têm direitos? A legislação é omissa e o tema torna-se cada vez mais actual, enquanto que os testemunhos da história da Terra são destruídos impunemente. A Gruta do Zambujal constitui um exemplo bem elucidativo. Infelizmente não é um caso isolado, pois os exemplos são muitos.

Os espaços naturais que não estão abrangidos por legislação específica, o caso dos geomonumentos ou geo-recursos culturais (em que se inserem as grutas), necessitam de urgente enquadramento legal. Reivindicação que, não sendo nova, continua a aguardar melhores dias. Entretanto, já foram classificadas diversas ocorrências, ao abrigo da legislação existente, como Monumentos Naturais ou Sítios, mas a protecção revela-se frequentemente ineficaz. Um problema tão importante quanto a falta de legislação específica prende-se precisamente com a conservação, valorização e dinamização das ocorrências. O controlo, nomeadamente pela administração local, do uso e gestão correctas das cavidades, baseado idealmente em legislação específica, será uma medida a implementar. No entanto, na sua ausência, torna-se premente o conhecimento das cavernas em que é necessária uma rápida intervenção conservacionista.
O desenvolvimento, divulgação e aplicação de normas legais sobre a conservação do endocarso constituirá, certamente, o passo a dar no sentido de obviar a delapidação do mundo subterrâneo. Devido à manifesta ineficácia demonstrada, nessa matéria, pela Federação Portuguesa de Espeleologia (FPE), entidade que deveria liderar o processo, resta aos cidadãos, em geral, e aos investigadores, em particular, a defesa dos “espeleótopos”. Este processo enquadra-se perfeitamente na ideia de Exomuseu da Natureza, proposta pelo Museu Nacional de História Natural (MNHN) da Universidade de Lisboa.

Não basta classificar
Descoberta em 1978, a Gruta do Zambujal (Sesimbra) suscitou um interesse pouco usual. Foram colocados guardas junto às entradas, para evitar a vandalização do espaço, e requeridos os pareceres dos geólogos Georges Zbyszewski e Veiga Ferreira, bem como da Associação Portuguesa de Investigação Espeleológica (APIE). Os pareceres foram unânimes - tratava-se da maior gruta a sul do Tejo, uma autêntica “pérola” da espeleologia portuguesa, uma cavidade realmente impar no tocante à espectacularidade, profusão e raridade das concreções aí existentes. A Gruta do Zambujal, num processo inédito e invulgarmente rápido, foi a primeira cavidade a beneficiar do estatuto de Sítio Classificado de interesse espeleológico (Decreto-lei nº 140/79, de 21 de Maio).
O grande interesse que esta cavidade despertou, quer na comunidade científica, quer na opinião pública, augurava uma nova era para as grutas e carsos do país. No entanto, não passou de um literal fiasco. Passados alguns anos, as grades que bloqueavam as entradas foram forçadas e as incursões antrópicas começaram a deixar as suas marcas. Por outro lado, a actividade extractiva, a menos de 500 metros de distância (o que contraria o disposto no Decreto-lei nº 89/90), revelou igualmente a urgente necessidade de se efectivar a conservação desse geomonumento.
A Gruta do Zambujal situa-se fora da jurisdição do Parque Natural da Arrábida (PNA). Mas, apesar de não ter sido delegada competência a esta área protegida para a gerir, o PNA tem acompanhado o processo desde Maio de 1995. A estratégia do PNA consiste no encerramento urgente da gruta, permitindo contudo o acesso à colónia de morcegos, pois a cavidade constitui abrigo de morcegos-de-peluche (Miniopterus schereibersii) e alguns morcegos-ratos-grandes (Myotis myotis). O processo de encerramento, previsto para Junho de 1998, está dependente do levantamento topográfico da gruta, da elaboração de um estudo de estabilização geotécnica e da execução do “projecto de saneamento da entrada”. Os atrasos no processo permitem assim prever seguramente que o encerramento não se irá concretizar na data indicada.
Após o encerramento da gruta, será equacionada a sua utilização turística, dependente do estudo de estabilização geotécnica e do estudo de viabilidade económica para a sua exploração, bem como a sua utilização no âmbito científico e cultural. O estudo de viabilidade económica deverá considerar a recuperação do espaço da pedreira (prevendo-se o estabelecimento de percurso pedonal, de um auditório ao ar livre, de um espaço de apoio aos visitantes e de um restaurante), assim como a possibilidade de construção de um aldeamento turístico. Saliente-se que as visitas à gruta não se devem processar durante os meses de Outubro a Março e no restante período do ano, as visitas devem compatibilizar-se com os disparos efectuado nas pedreiras que se encontram na zona envolvente. Adivinha-se, pois, incompatibilidades dedifícil gestão!
A Gruta do Zambujal já não é a “pérola” de há 20 anos atrás. Com grande parte das concreções destruídas e parcialmente entulhada por blocos, a sua utilização turística encontra-se seriamente comprometida. Duas décadas depois da classificação, a Gruta do zambujal continua à mercê da burocracia e ineficiência das entidades responsáveis, entre as quais se inclui o Instituto d Conservação da Natureza (ICN), que alega invariavelmente carência crónica de meios. O património espeleológico é que não se compadece com os atrasos verificados. No fim de tudo isto, talvez o concelho de Sesimbra perca um pólo de desenvolvimento local e o país uma das mais belas grutas conhecidas em território pátrio.


Gruta do Zambujal (Arrábida) © Francisco Rasteiro (1995)