19/11/2008

Conferência em Coimbra

O Instituto de Estudos Geográficos da Universidade de Coimbra, no âmbito do Mestrado em Geografia Física - Ambiente e Ordenamento do Território, vai realizar no próximo dia 28 de Novembro (6º feira), na Sala Fernandes Martins do Colégio de S. Jerónimo (2º andar), pelas 17.00 horas, uma conferência subordinado ao tema “Carso e Paleocarsos em Itália meridional (Puglia) - As morfo-sequências subterrâneas enquanto arquivos de dados” a proferir pelo Doutor Vincenzo Iurilli do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Bari (Itália).

[Fonte: Sérgio Medeiros in Espeleo.pt]

04/11/2008

Ecologia Subterrânea

[Fonte: blog do EC/DC]

Na boa... (II)

Espeleologia
Lapa do Médico

Cavidade ideal para o desenvolvimento de técnicas de progressão dentro de gruta. Com algumas passagens estreitas entre salas, a geologia é diversa nesta gruta, passando por zonas de espeleotemas, a outras onde os movimentos tectónicos estão bem latentes.
Preço: 16 €
Duração: manhã
Grau de dificuldade: médio/alto
Informações: (…)
Ponto de encontro: Praia das Bicas
Org.: (…)”

[Sesimbra'acontece - Agenda de Acontecimentos do Concelho de Sesimbra, Ano 3, nº 32, Novembro 2008]

Mata do Solitário © Joana Santos

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Apraz-nos saber que a geologia é diversa e que os movimentos tectónicos são latentes... Antes isso do que lactentes! O que nos surpreende é a situação de se estar a publicitar uma actividade numa área de reserva integral em pleno Parque Natural da Arrábida (PNA)! Pois, porque a sua simples realização, sem divulgação, é o pão-nosso de cada dia. O fenómeno não é de hoje, nem de ontem...

Cordilheira da Arrábida

Ordenamento Turístico
Regras na Arrábida

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 158, 5 de Dezembro de 1997]

As actividades de ar livre, no Parque Natural da Arrábida, vão estar sujeitas a regras precisas, integradas num plano de ordenamento turístico. O debate organizado pelo Núcleo Cicloturista de Sesimbra, no passado sábado, centrou-se sobretudo nas pedreiras e na Gruta do Zambujal. No entanto, o turismo foi apontado como um dos problemas mais graves dessa área protegida.

No passado sábado, dia 29 de Novembro, o Núcleo Cicloturista de Sesimbra (NCS) organizou, no auditório - Centro de Formação Profissional para Sector das Pescas, em Sesimbra, um debate sobre desenvolvimento sustentável neste concelho. Espaço de discussão sobre a preservação das riquezas naturais do concelho de Sesimbra, contou com o apoio do Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB), Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA) e Núcleo de Espeleologia da costa Azul (NECA). O mar constituiu o primeiro tema, onde se debateram sobretudo aspectos ligados com a pesca, base da economia local. Salientou-se igualmente a necessidade de classificação do litoral como área protegida submarina, classificação necessária à própria salvaguarda da actividade piscatória. Não ficou esquecida a necessidade de enquadramento das actividades aquáticas (nomeadamente o mergulho).
Mas Sesimbra caracteriza-se por uma dualidade entre o mar e a serra. E foi a serra precisamente o tema da segunda parte do debate, que causou as maiores polémicas e onde se manifestaram os ânimos mais exaltados.
Um dos pontos quentes da discussão centrou-se nas declarações do director do Parque Natural da Serra da Arrábida (PNA) acerca do turismo nessa área protegida. Ricardo Paiva começou por salientar que o debate tratava o desenvolvimento sustentável no concelho de Sesimbra, não se circunscrevendo este somente ao caso das pedreiras. A reacção à passagem do documentário “Escrava de Pedra”, da jornalista Rita Saldanha, que abriu o debate sobre a serra.
Há muitas questões na Arrábida. Não são apenas as pedreiras, não é apenas a Gruta do Zambujal.” Segundo o director do PNA, a grande ameaça ou uma das grandes ameaças da Arrábida, em termos ambientais, consiste principalmente no “desordenamento turístico”. E “a circulação desenfreada de milhares de pessoas que procuram esta área especialmente apetecível” requer uma conveniente gestão.
Para Ricardo Paiva, a área do PNA apresenta “características óptimas para a prática dos novos turismos (ecoturismo, turismos radicais, turismos de natureza, etc.)”, mas por vezes esta colide com a conservação.
Com o intuito de minimizar os impactes das actividades out-door, o PNA encontra-se a elaborar o plano de ordenamento turístico da Arrábida. Em princípio, será do conhecimento público já no início do ano que vem, integrando a reclassificação do parque. “Será apresentada a discussão pública uma concepção de ordenamento turístico que vai passar pela limitação e interdição das actividades turísticas, nomeadamente as motorizadas e muitas das não motorizadas”, assegurou o director dessa área protegida.
As alusões à prática do cicloturismo não passaram desapercebidas ao anfitrião do debate, o NCS. “O cicloturismo passa a ser proibido no Parque Natural da Arrábida. Atenção, passa a ser proibido se for feito de uma forma desordenada. Ele passará a ser perfeitamente apoiado, passa a ser perfeitamente desejado, desde que devidamente enquadrado em regras que são definidas pela área protegida.
O director do parque referiu a incapacidade de “vigiar e controlar estas dezenas ou centenas de milhares de transeuntes que praticam todo o tipo de turismo”. Uns absolutamente inofensivos, outros extremamente agressivos para o ambiente. “Como não temos capacidade de controlar, com quatro guardas (que é o que nós temos na Arrábida), estes milhares de pessoas, a solução encontrada foi: vamos ter com as associações, vamos ter com as empresas, vamos definir as regras em que cada uma opera, quantas pessoas operam, onde operam, quando operam e vamos ordenar tudo isso.
No futuro plano de ordenamento turístico da Arrábida, as empresas e associações passam a ser responsáveis pela aplicação das regras fixadas pelo parque. Quando alguma não as cumprir, ser-lhes-á tirado, digamos assim, o “alvará” que terão de possuir para poderem desenvolver actividades nessa área classificada. O director do PNA reconheceu que a discussão pública não vai ser pacífica, mas salientou que “é uma forma perfeitamente legitima que o parque tem de preservar o espaço que está sob sua gestão”.
Carlos Sirgado, em representação do NECA, fez notar que não interessa proibir eventuais actividades úteis para o concelho. “Interessa sim condicioná-las a um nível e a um volume em que não se tornem muito gravosas”. Para este geógrafo, quando o engenheiro Ricardo Paiva referiu “que o usufruto e as intervenções turísticas na área do parque vão ser limitadas a acções concretas para que se saiba quem é que faz o quê, onde e quando”, só há que aplaudir. “Defendo que deve haver um controlo rigoroso do espaço, para que depois as coisas possam ser chamadas pelos seus nomes”, assegurou.
O representante dos espeleólogos mostrou-se igualmente céptico com a falta de guardas no PNA. É que, não havendo pessoal para efectuar o acompanhamento das actividades, poderá não haver autorização para a realização das mesmas. De facto, a crónica carência de meios, quer do PNA, quer do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), poderá impossibilitar por completo a aplicação, no terreno, do ordenamento das actividades turísticas.
O geólogo Carlos Costa, da Universidade Nova de Lisboa, por seu turno, lembrou que muitas vezes os planos não têm aplicabilidade no terreno. Por outro lado, acentuou a importância destes serem amplamente participativos, de consulta pública abrangente. “Um processo que permita o envolvimento da população de forma desassombrada. Ou então corremos o risco destas situações continuarem relegadas para o amanhã.
Algumas das associações de actividades de ar livre é que, ao que tudo indica, não terão sido contactadas para contribuírem com os seus pontos de vista. A reacção de José Manuel Caetano, do NCS e presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, não se fez esperar. Para este cicloturista, as palavras proferidas pelo director do parque foram ofensivas e despropositadas. O NCS é uma associação de defesa do ambiente que pauta as suas actividades no respeito pela conservação da natureza, pelo que as proibições, a avançarem, serão injustificadas. Francisco Rasteiro, do NECA, referiu que os espeleólogos não foram informados do ordenamento das actividades turísticas e desconhecem o conteúdo do mesmo.
Um plano de ordenamento das actividades turísticas que não passe por uma profunda discussão entre os cidadãos e instituições directamente envolvidas não terá certamente grande futuro. Serão mais um conjunto de normas inaplicáveis e desajustadas da realidade. Letra morta da lei ou plano aplicável? A ver vamos.

03/11/2008

Síndroma do Nariz Branco

© DR

Identificada uma causa da doença dos morcegos

Biologia. Um pequeno fungo está a dizimar a espécie, no Nordeste dos Estados Unidos.

Uma equipa de cientistas conseguiu identificar a causa (ou uma das causas) da doença conhecida por síndroma do nariz branco e que já matou mais de 100mil morcegos nos Estados Unidos, nos últimos dois anos. Segundo um estudo publicado na Science, trata-se de um fungo branco que aparece nos cadáveres dos animais mortos durante a hibernação.
Os investigadores dizem que este fungo se desenvolve melhor em condições muito frias, preferindo temperaturas típicas de um frigorífico.
Os cientistas ainda não conseguiram determinar se o fungo existia nas cavernas de hibernação dos morcegos ou se as contaminou, não havendo também certezas desta ser a única causa da morte. A confirmar-se uma contaminação, a causa poderá ser humana.
Os morcegos têm importante função ecológica, sobretudo no controlo de insectos, e a sua população conheceu um declínio de 75% no nordeste dos Estdos Unidos, em apenas dois anos.


[Diário de Notícias Ano 144º, nº 50982, 2 de Novembro de 2008, pg. 45]

À margem da lei

Lapa do Fumo
O património está a saque

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 181, 15 de Maio de 1998]

O Núcleo de Espeleologia da Costa Azul descobriu que o património arqueológico existente na Lapa do Fumo está a ser devassado. A Câmara Municipal de Sesimbra e a Guarda Nacional Republicana já tomaram conta da ocorrência. Espera-se uma intervenção rápida para pôr fim ao sucedido.

Lapa do Fumo (Arrábida) © Francisco Rasteiro (1998)

O Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) alertou a Câmara Municipal de Sesimbra (CMS), no final de Abril, para as estranhas escavações em curso na Lapa do Fumo. Os espeleólogos encontraram, a par de detritos actuais (roupa, velas, sacos, garrafas de plástico, etc.), materiais cerâmicos, líticos e ósseos, dispersos à superfície. Destacavam-se dois baldes de plástico cheios de fragmentos de cerâmicas, espólio amontoado e terras revolvidas.
A edilidade sesimbrense despoletou rapidamente o processo de averiguação da situação e protecção da cavidade. O arqueólogo da CMS, Luís Ferreira, deslocou-se à Lapa do Fumo, acompanhado da GNR, a fim de ser tomada conta da ocorrência. Paralelamente, os serviços técnicos da CMS estão a decidir qual a forma de fecharem a Lapa do Fumo, porque as soluções anteriores revelaram-se infrutíferas perante os actos de vandalismo. Segundo Luis Ferreira, a última autorização para efectuar trabalhos na Lapa do Fumo remonta a 1988. Quem cavou o solo da gruta procedeu à margem da lei.

Caçadores de tesouros
A Lapa do Fumo situa-se na vertente sul da Serra dos Pinheirinhos (concelho de Sesimbra). Corresponde a uma galeria fóssil, com cerca de 70 metros de comprimento, orientada segundo SE-NW. A largura e altura máximas são de 12 e 6 metros respectivamente. Possui abundantes estalactites e estalagmites, quase na sua totalidade destruídas. As colunas são das poucas formações que conseguiram resistir à destruição. Os grupos de colunatas, dispostos ao longo do eixo longitudinal da cavidade, dividem a galeria em dois corredores onde, apenas no final, é necessário rastejar. De resto, a progressão é fácil e acessível a qualquer individuo, mesmo sem equipamento especializado. A Forum Ambiente visitou o local, na companhia de Francisco Rasteiro (do NECA), e constatou a devassa do espólio arqueológico, a destruição quase total das concreções e o acesso livre a um arqueo-sítio de valor inquestionável. É que as duas portas gradeadas, os cadeados e as paredes da casa-mata não resistiram à fúria daqueles que, à força, quiseram visitar a Lapa do Fumo.
Como refere Marc Jasinski (no livro La Speleologie, 1978): “penetrar numa habitação do Paleolítico, sem permissão de visita, simplesmente para satisfazer alguma mania de coleccionista ou de antiquário, ainda que seja 30 mil anos depois da partida dos seu proprietários (…) continua sendo um delito”. Mais, destruir os fradeamentos e as paredes que impediam o acesso à Lapa do Fumo e/ou saquear o espólio ai existente será um delito grave, um crime agravado, mais não fosse porque a cavidade é um Imóvel de Interesse Público (Decreto-Lei nº 28/82, de 26 de Fevereiro).
Para Luís Ferreira, o “tráfico de material arqueológico, apesar de não estar fundamentada a sua existência, será uma das possíveis explicações para as escavações” em curso na Lapa do Fumo. Segundo esta fonte, os indivíduos envolvidos neste atentado ao património concelhio estariam documentados, pois a área cavada corresponde àquela onde foram descobertas moedas árabes. Os incógnitos, curiosos, coleccionadores ou antiquários serão autênticos “caçadores de tesouros”.

“Estilo Lapa do Fumo”
Hermanfrid Schunbart, Bosh-Gimpera, J. Pedro Garcia Roiz ou Juan de Mata Carriazo, entre outros, colocam em destaque a cerâmica da Lapa do Fumo quando abordam a fase do Bronze final ibérico. Trata-se da “cerâmica com ornatos brunidos”, que alguns denominam “estilo Lapa do Fumo”.
A “Cerâmica com ornatos brunidos” da Lapa do Fumo destaca-se por diverso motivos. Foi a primeira do género a ser divulgada no nosso país (aquando da sua descoberta, em 1956, somente eram conhecidos escassos fragmentos desse tipo cerâmico). É a mais variada e bela, de entre as restantes estações portuguesas e espanholas onde ocorre. Proporcionou ao seu descobridor, Eduardo da Cunha Serrão, a primeira cronologia coerente da “cerâmica com ornatos brunidos” (Idade do Ferro). E, actualmente, esta cerâmica sesimbrense é considerada como sendo do final da Idade do Bronze, transição para a Idade do Ferro.
H. N. Savoy, na obra Espanha e Portugal (1968), assinala e reproduz (figura 85, página 243) um exemplar da “cerâmica com ornatos brunidos” da Lapa do Fumo. O. da Veiga Ferreira e M. Leitão, em Portugal Pré-Histórico (1983), não referem este notável tipo de cerâmica, porque a sua obra exclui a Idade do Bronze. No entanto, reproduzem duas gravuras de vasos neolíticos da Lapa do Fumo (na página 152).
A Lapa do Fumo revelou níveis do Neolítico antigo evolucionado, do Neolítico recente, do Calcolítico, da Idade do Bronze, da Idade do Ferro e das épocas romana e árabe. O espólio arqueológico é muito variado: tumulações; objectos de carácter religioso (placas de xisto gravadas, ídolos-falange e “coelhinhos” de osso; raspadores e micrólitos geométricos de sílex; punhais, cabos cilíndricos, cabeças de alfinete, furadores, espátulas e adornos de osso; vasos, taças, tigelas, pratos e copos de cerâmica; contas bicónicas e polidas de azeviche, etc..
A presença dos romanos na Lapa do Fumo está representada por cerâmicas, nomeadamente pelos bicos de ânforas. A ocupação muçulmana também é testemunha pela presença de cerâmicas. Foram também descobertas provas numismáticas (quirates do século XII) que identificaram a existência, até então desconhecida, de oficinas monetárias muçulmanas em Silves e Beja.
Imóvel de Interesse Público, geomonumento que nos conta um pouco de história da Terra e arqueo-sítio que no revela muito da história do Homem, a Lapa do Fumo está a se pilhada. Urge defender esta gruta antes que seja tarde.

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Nota: Estamos em 2008, dez anos passados, e a Lapa do Fumo continua a receber visitas... A Sesimbra'acontece - Agenda de Acontecimentos do Concelho de Sesimbra (Ano 3, nº 32, Novembro 2008) divulga uma actividade a realizar-se no próximo dia 22 de Novembro, às 9.30 a.m.! Na boa...