11/12/2008

Água e Vinho subterrâneos

Uma equipa de espeleólogos húngaros descobriu, no passado mês de Novembro, um grande lago de águas termais na cavidade Molnár János, em Budapeste (Hungria). Essa cavidade, conhecida desde 1970, forma parte de uma vasta rede subterrânea de origem hidrotermal responsável pelos famosos banhos termais da cidade de Budapeste.
O presidente da câmara do Distrito 2 de Budapeste, Zsol Láng, onde se situa a Molnár János (em Buda), diz que irá fazer tudo o que esteja ao seu alcance para que a UNESCO declare esta cavidade como património mundial. O lago, considerado um dos maiores hidrotermais de que se tem conhecimento, com 86 metros de comprimento, 26 metros de largura e 8 metros de profundidade mínima, apresenta uma temperatura de 27º C.

[Fonte: Espeleobloc]








Post Scriptum: Na nossa última estadia em Budapeste não tivemos oportunidade de conhecer as águas termais mas, em contrapartida, vimos o Pai Natal na Szemlo-hegy e descobrimos não águas termais, nem água mineral, mas vinho no Budavári Labirintus! Nem mais… :)

Szemlo-hegy (Budapeste) © Pedro Cuiça (2006)

Budavári Labirintus (Budapeste) © Pedro Cuiça (2006)

Isso é tudo especulação

Gruta do Zambujal
Derrocada de Sítio Classificado

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 186, 19 de Junho de 1998]

O fecho da Gruta do Zambujal estava marcado para Junho. Infelizmente, a derrocada de parte do nível inferior da cavidade constituiu a novidade do mês. A conservação desse Sítio Classificado revela-se, cada vez mais, uma impossibilidade e os espeleólogos temem o pior: a derrocada de toda a gruta.

Gruta do Zambujal © Francisco Rasteiro (1998)

Não é todos os dias que se faz futurologia. Na verdade, a previsão do futuro da Gruta do Zambujal não suscitava grandes dúvidas. Era tudo uma questão de tempo. Passa-se a explicar. O jornal Forum Ambiente alertou, na edição de 5 de Junho, para o abandono e destruição da Gruta do Zambujal. No dia seguinte (sábado, 6 de Junho), o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) constatou que parte do nível inferior da cavidade tinha sofrido uma derrocada recente.
O alerta não se fez esperar, a derrocada na Gruta do Zambujal saltou para as páginas dos jornais. A pérola da espeleologia portuguesa voltou a ser notícia e, mais uma vez, por motivos relacionados com a sua destruição. Destruição que, ao longo de duas décadas, transformou essa “jóia”, de forma inexorável, num “buraco” em perigo de ruir na sua totalidade. É que as rochas nas quais a gruta se encontra estão intensamente fracturadas, demonstrando de modo cada vez mais evidente a instabilidade da mesma.
Os vereadores da Câmara Municipal de Sesimbra reuniram-se de urgência, no dia 9 de Junho (terça-feira), para avaliarem o sucedido na Gruta do Zambujal, tendo posto ao corrente da situação o primeiro-ministro, António Guterres, e a ministra do Ambiente, Elisa Ferreira. Os responsáveis do Parque Natural da Arrábida (PNA) estiveram incontactáveis até ao fecho da edição e a pedreira de José Galo limitou-se a dizer: “Isso é tudo especulação”.
Em visita à gruta, no dia 10 de Junho, a Forum Ambiente presenciou a área afectada pela derrocada e, em conversa com a população confirmou que “os rebentamentos são quase todos os dias”. A Guarda Nacional Republicana, de Sesimbra, referiu que não foi participada qualquer ocorrência de explosão fora do comum. No entanto, o “povo” já está habituado aos “abalos de terra” e, por medo ou indiferença, já não se dá ao trabalho de reclamar.

Vergonhosa indiferença, manifesta incompetência
A Gruta do Zambujal já não é a maravilhosa cavidade de há 20 anos atrás. Com grande parte das concreções destruídas, parcialmente entulhada por blocos e desmoronada, o seu valor patrimonial e científico, bem como o seu aproveitamento turístico, encontram-se seriamente comprometidos. Duas décadas após a sua classificação como área protegida de interesse espeleológico, a Gruta do Zambujal continua à mercê da burocracia e da ineficiência das entidades responsáveis, entre as quais se inclui o Instituto da Conservação da Natureza (ICN), que alega invariavelmente carência crónica de meios.
Para o NECA, “o ICN mostra-se completamente desinteressado pela conservação da Gruta do Zambujal, alegando existirem problemas de maior prioridade para serem resolvidos”. O PNA e a Câmara Municipal de Sesimbra (CMS) também não têm um historial famoso, no que se refere à conservação e dinamização desse geo-recurso cultural. A CMS, ao tempo do anterior executivo, chegou mesmo a entulhar uma das entradas da cavidade com toneladas de blocos. Por incrível que pareça, não foram apuradas responsabilidades e ninguém foi punido.
A indiferença a que a gruta tem sido votada ao longo dos anos está bem patente no terreno. Resultado de diversos actos de vandalismo, bem como da incompreensível extracção de pedra, a incúria e desresponsabilização são bem evidentes. Aliás, segundo o NECA, os recentes desmoronamentos verificados na Gruta do Zambujal terão sido originados por fortes explosões provocadas pela laboração da Pedreira de José Galo. Mas será um “pleonasmo” referir a ilegalidade da laboração da pedreira a menos dos 500 metros desse Sítio Classificado, a destruição de grande parte do vale da Ribeira do Cavalo ou o desaparecimento das pegadas de dinossáurios aí existentes. “Outros valores se levantam…” e a (des)responsabilidade é de todos em geral e de ninguém em particular.
O património espeleológico é que não se compadece com a actuação de quem de direito. Tal como foi referido no jornal Forum Ambiente (nº 184, de 5 de Junho de 1998), talvez o concelho de Sesimbra perca um pólo de desenvolvimento local e o país uma das mais belas grutas conhecidas em território nacional, se é que já não perdeu.



OPINIÃO
Há que dizê-lo…
Com ou sem frontalidade


15 horas: o senhor engenheiro ainda não chegou. 15 horas e 30 minutos: espera-se o senhor engenheiro, a qualquer momento. 16 horas: o senhor engenheiro já se encontra nas instalações, mas em paradeiro desconhecido! 17 horas e 25 minutos: o senhor engenheiro está ao telefone, no entanto não poderá aguarda por ele, em linha, porque a central telefónica ficará ocupada. 17 horas e 30 minutos: o senhor engenheiro acaba de sair. Não, não é o director do Parque Natural da Arrábida (PNA). Esse encontra-se de férias. A pessoa que a Forum Ambiente tentou contactar na terça-feira (dia 9 de Junho), para prestar declarações acerca do sucedido na Gruta do Zambujal e da posição do PNA, é supostamente a que estaria a substituir o director.
O presidente do Instituto da Conservação da Natureza (ICN) também se encontrava incontactável e não havia ninguém no instituto que prestasse esclarecimentos sobre a Gruta do Zambujal. Aconselharam-nos a contactar o PNA, o que já tínhamos feito talvez “umas poucas três dezenas de vezes”. Na Câmara Municipal de Sesimbra o panorama não foi mais animador. O presidente da edilidade encontrava-se de férias e os vereadores estiveram incontactáveis, pois encontravam-se reunidos devido à preocupante situação da Lagoa de Albufeira e face ao recente abatimento da Gruta do Zambujal. Nos dias 12, 15 e 16 de Junho, a Forum Ambiente voltou à carga, dando descanso aos visados nos feriados e fim-de-semana. Mas sem resultados. Até ao fecho da edição (dia 16) a situação de incomunicabilidade das pessoas e entidades referidas manteve-se.
Sem comentários…

03/12/2008

Ena pá!

Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Ena pá! 2008? Sim, estamos de facto no século XXI e num novo milénio... Não parece, mas assim é!!!
Como se costuma dizer: uma imagem vale mais do que mil palavras. E estas, sendo meia dúzia, falarão por si… Portanto, palavras para quê? O que é natural é bom, não é? E quando se encontra num parque natural (como o PNSAC) as expectativas ainda serão maiores! Mais natural, mais natureza, mais verde, mais ecológico, mais sustentável, mais… Blá, blá, blá...
De qualquer modo, para quem ache imprescindível uma explicaçãozinha, aqui fica... À falta de algum considerando mais profundo, só nos ocorre mesmo algo bem superficial :

“Marisco é bom,
Marisco satisfação,
Marisco é bom,
Marisco é-i…”


Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)

Grande pedra...

Ordenamento do Território
O reino da pedra

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente, nº 159, 12 de Dezembro de 1997]

Serra da Arrábida © Francisco Rasteiro (1997)

O Núcleo Cicloturista de Sesimbra organizou um debate sobre desenvolvimento sustentável no concelho. Na passada semana demos a conhecer as novidades acerca da prática de actividades de ar livre no Parque Natural da Serra da Arrábida. Mas não poderíamos deixar passar em branco as pedreiras e a Gruta do Zambujal.

No dia 29 de Novembro, o Núcleo Cicloturista de Sesimbra (NCS) organizou um debate sobre desenvolvimento sustentável no concelho. Espaço de discussão sobre preservação das riquezas naturais do concelho de Sesimbra, contou com o apoio do Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB), Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA) e Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA).
O mar constituiu o primeiro tema, onde se debateram sobretudo aspectos ligados à indústria pesqueira. Mas foi a serra, o segundo tema do debate, que levantou as mais acesas polémicas. Na semana passada abordaram-se as novidades acerca da prática de actividades de ar livre na área do Parque Natural da Arrábida (PNA). Agora vamos focar a indústria extractiva e o problema da Gruta do Zambujal. Questões, aliás, em torno das quais se centrou a maior parte do debate. Carlos Costa, da Universidade Nova de Lisboa, iniciou o segundo tema do debate afirmando que “na serra vamos ter que privilegiar a temática das pedreiras. São ou não as pedreiras que laboram no PNA essenciais para o concelho de Sesimbra, para a área metropolitana de Lisboa e para o País?” questionou esse geólogo. A clivagem situar-se-á entre aqueles que pensam que as pedreiras são essenciais e os que pensam que poderíamos prescindir delas.
A utilidade das pedreiras será inquestionável. No ano passado foram retiradas oito milhões de toneladas de pedra do PNA (fundamentalmente britas para a construção civil), o que correspondeu a dois milhões e meio de contos. A localização das ditas pedreiras é que não gera consensos. “À semelhança do que defendeu há cerca de dez anos o Grupo de Trabalho da Arrábida da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), é necessário a interdição de novas frentes de pedreiras dentro do perímetro do PNA, bem como da ampliação de outras que possam perigar áreas de especial interesse ecológico, como por exemplo a área da Serra do Risco”, salientou Carlos Costa.
Por outro lado, as pedreiras de Sesimbra encontram-se no esforço máximo de laboração e espera-se que a indústria extractiva venha a sofrer um refluxo económico no próximo ano, devido à finalização dos trabalhos da Expo 98 e da Ponte Vasco da Gama. Alguns mais fundamentalistas da área do ambiente suspirarão de alívio. No entanto, isso poderá implicar que as empresas não possuam verbas para fazer aquilo que já deveriam de ter feito há muito tempo: a recuperação paisagística. “Desiludam-se aqueles que pensam, que aceitam, teorias do género: primeiro exploramos, depois recuperamos. Isso não existe em nenhuma parte do mundo. O que se faz é um plano sequencial de exploração e de recuperação. Porque a recuperação custa qualquer coisa como 10 a 27 por cento do valor da produção. Ninguém vai aplicar esses valores na recuperação, se não estiver a colher lucros de exploração.
Mas não houve só más notícias no debate sobre desenvolvimento sustentável no concelho de Sesimbra. O plano de ordenamento das pedreiras de Sesimbra está prestes a ser aprovado. “Se esse plano for aprovado, a vantagem que tem, relativamente a não ser aprovado (depois de se realizarem as negociações parciais), é acima de tudo a de que pode ser um plano conjugado. Um plano que contempla soluções que se articulem e que permitam a garantia de que a qualidade do ambiente vai novamente pode ser colocada a níveis elevados compatíveis com o nível de protecção da área.
Para Ricardo Paiva, director do PNA, “convém não esquecer que somente três por cento da área do parque é ocupada por pedreiras, os restantes 97 por cento não têm pedreiras”. Esses 97 por cento pertencem à zona que está minimamente lesada por pressões económicas, políticas ou dos mais variados interesses. “Apesar de tudo, quem for dar uma volta na Arrábida, com os defeitos que tem - há lixos, há entulhos, há agressões ao ambiente,… e eu não os quero esconder - de qualquer forma se não houvesse parque o que é que seria actualmente esta área.
Outro dos assuntos que mereceu aturada atenção foi o da Gruta do Zambujal. Esta, após o longo interregno a que foi votada sob a alçada do ICN, passou este ano para a jurisdição do PNA. Ricardo Paiva referiu que “no plano de actividades do ano que vem inscrevi uma verba para resolver de uma vez por todas o problema da Gruta do Zambujal”. Segundo Ricardo Paiva, as reuniões - nomeadamente com a Câmara Municipal de Sesimbra, Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) e ICN (pelo passado que teve no estudo e na condução de todo o processo da Gruta do Zambujal) - irão continuar.
Mas foi estabelecido um calendário com vista ao encerramento da cavidade. Aliás, já foi efectuado um encontro com especialistas tendo em vista o encerramento da mesma. A gruta vai ser encerrada, mas o acesso aos morcegos será assegurado. Apenas a entrada do Homem será interditada por tempo indeterminado, até que esteja finalizado um estudo de aproveitamento turístico da caverna. “Mas com base em estudos científicos, para sabermos a capacidade de carga e o potencial aproveitamento ou não das grutas do Zambujal”, assegurou o director do PNA. “Neste momento estamos a avançar, penso que a bom ritmo, e quase que poderia dizer que em meados do ano que vem teremos esta questão do encerramento da gruta resolvida”, finalizou.
Por último, refira-se que está em curso a reclassificação do PNA e espera-se que o Cabo Espichel venha a fazer parte do Parque Natural. Mas a área da Gruta do Zambujal e Vale da Ribeira do Cavalo, bem como zonas sensíveis do ponto de vista da construção clandestina, estão, à partida, excluídas. O parque relega as responsabilidades para outras entidades. “Nós somos Instituto de Conservação da Natureza, não somos instituto do desordenamento territorial”. Novos rumos estão traçados, agora é esperar para ver.

P.S.: Não é um Instituto de Desordenamento do Território. E de Ordenhamento?