23/01/2009

Encerramento do Zambujal (IV)

Atentados ao interior da Terra
Grutas sem Protecção

[FORA DE PORTAS · jornal Forum Ambiente nº 311, 28 de Novembro de 2000]

O Núcleo de Espeleologia da Costa Azul alerta para novos atentados contra o património natural do concelho de Sesimbra. A Gruta do Zambujal é, mais uma vez, o centro das atenções.

O Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) tem acompanhado de perto a evolução do Sítio Classificado da Gruta do Zambujal desde a interrupção dos trabalhos de encerramento da cavidade. Acompanhamento que gerou os alertas lançados ao Parque Natural da Arrábida (PNA) e à Câmara Municipal de Sesimbra (CMS), em cartas datadas de 11 de Setembro e 7 de Novembro, “para os últimos actos de vandalismo no interior da Gruta do Zambujal”.
O estado deplorável em que se encontra aquela que foi considerada a “pérola da espeleologia a sul do Tejo” é fácil de constatar (ver jornal Forum Ambiente nº 310, de 21 de Novembro). O abandono e a destruição prosseguem enquanto a cavidade aguarda a protecção merecida. O encerramento da Gruta do Zambujal estava previsto para Março do presente ano mas, desde a destruição das obras efectuadas no terreno, os trabalhos pararam até hoje.

Longe da conservação
O NECA começou a efectuar acções de vigilância da cavidade já antes de Maio. Nesse mês, os espeleólogos sesimbrenses dispararam com “um emaranhado de fios de sisal com bolor nas zonas mais húmidas” da gruta. Os espeleólogos também notaram “que algumas excêntricas e uma asa de borboleta tinham desaparecido”.
As acções de vigilância da Gruta do Zambujal levaram, no mês de Agosto, à descoberta de duas mochilas junto da antiga entrada, o que indicou a presença de indivíduos no interior da cavidade. Quando os espeleólogos do NECA desceram a rampa que dá acesso à gruta ouviram “formações a ser quebradas na galeria inferior”. AGNR foi alertada e dois jovens escuteiros foram detidos “para identificação e foram levados à esquadra de Alfarim”. Os espeleólogos verificaram que, no interior da gruta, “os fios da topografia ainda ali estavam esquecidos”.
As acções de vigilância prosseguiram e os espeleólogos do NECA constataram, no dia 5 de Novembro, “que os fios de sisal não foram levados para fora da cavidade, mas estavam em rolos espalhados pelo chão por toda a cavidade”. Segundo os espeleólogos do NECA, “nas zonas onde os fios de sisal estavam amarrados encontram-se destruídas dezenas de formações”, entre as quais “a maior excêntrica da gruta”. Os espeleólogos afirmam ainda que encontraram “tectos e formações sujas do fumo de acetileno (usado normalmente por espeleólogos)”. Os espeleólogos do NECA detectaram igualmente “um aumento dos amontoados de formações, escolhidas para presumível roubo” e “outras abandonadas no caminho para o exterior por terem sido quebradas ou serem demasiado pesadas”.
Para o NECA, é incompreensível “que, após tantos anos de atentados à cavidade, não haja ainda vontade política para resolver o seu futuro no sentido de a proteger de forma a possibilitar o estudo para a dinamização do espaço”. Os espeleólogos sesimbrenses defendem que “estes atentados só terão termo quando se realizar o simples fecho adequado da gruta”. Uma medida que, na sua opinião, “acabará com actos que parecem visar a total destruição destes reconhecidos valores patrimoniais”.

Gruta do Zambujal (Arrábida) © Francisco Rasteiro

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