21/01/2009

Outra dimensão

Algarve © Pedro Cuiça (2008)

As grutas são outra dimensão. Elas enchem uma geografia sagrada que se estende desde o noroeste Lusitano até às baías nordeste dos Pirinéus. As grutas chamam-se penhas e nelas ou habitaram animais espoliados da paz, pelo fero homem, ou homens isolados acharam o silêncio criador, como Mafamede na gruta desértica. As grutas vão desde a Estremadura ao Gerez, constituindo sinais de porta aberta, e prolongam-se pela Cantábria, até ao Meio-Dia francês. A mística medieval peninsular ainda detém a posse da via lúrica, desde as grutas de Toledo às grutas do Bearne. As grutas associam-se a mananciais de água viva, de onde brotam águas santas, rios de vida, regatos de cristal. São, a terra e a água, mais concretos, os elementos que, da tétrade elementar, melhor se oferecem à palpitação humana. O ar e o fogo são fugidios e abstractos, a terra e a água são assentos, sólidos e líquido, mas palpáveis. No culto dos elementos, a sofia, pobre ainda e para sempre, inventa a natureza elementar de quanto é a matéria-prima de que o ânimo se serve para criar animação, através da anima. Tudo é como é, e tudo é simulado do real que simula.
Pinharanda Gomes
in A Patrologia Lusitana (1983)

Algarve © Pedro Cuiça (2008)

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