12/01/2009

A Zorra "berrou"?

Planalto de Santo António (PNSAC) © Pedro Cuiça (Dez. 2008)

Não, não será certamente a Zorra Berradeira pois parece tratar-se de uma simples raposa (Vulpes vulpes). Mas que “berrou”, “berrou”, não há dúvida… Resta saber: porquê? Será que teve a infelicidade de se deparar com uma alma (de)penada? Não creio...
A lenda da Zorra Berradeira é tão antiga quanto esquecida pelo sedimentar das recordações dos velhos tempos passados. Esta lenda foi bastante veiculada no Algarve, com destaque para a região de Silves, nomeadamente por Francisco Xavier d’Athaíde Oliveira.
A Zorra Berradeira era conhecida pelos ruídos monstruosos que produzia em certa noites. Com o aspecto de cabra, produzia silvos de fúria que anunciavam desgraça iminente! Ninguém os queria ouvir. Contavam-se histórias de pessoas que os tinham escutado e, pouco depois, terão sido vítimas de terríveis desastres, sobretudo mortes de entes queridos.
As lendas associadas a essa "raposa" de tendências algo ruidosas não se cingem contudo ao Algarve, também são conhecidas noutras zonas do País e no estrangeiro. Por exemplo, no Brasil esse “mito” é conhecido, mas também bastante olvidado, nos Estados de Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Também chamado de "Berrador", "Barrulheiro" ou "Bicho Barulhento", a Zorra Berradeira é um ser sem descrição física, que assusta os sertões, através da emissão de altos berros, "compassados, intermitentes e horríveis". A "raposa" atravessa os campos, correndo, todas as sextas-feiras, depois da meia-noite. É uma alma penada… Diz a lenda que a terra não a aceita e só o fará quando ela cumprir sua sina. Na Argentina a bicha chama-se “Kaparilo”…
Essa figura inumana, que povoa o imaginário popular algarvio (e não só), sob a forma de lendas e superstições, pode ser visualizada numa pintura de Carlos Porfírio, da colecção «Lendas do Algarve», que se encontra no Museu de Arqueologia de Faro.

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