05/02/2009

Caça na Pena

Rocha da Pena
Factos (s)em Palavras

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 314, 19 de Dezembro de 2000]

O Ano Novo está a chegar e com ele as rapinas que irão passar o Inverno e Primavera na Rocha da Pena. Um Sítio Classificado que aguarda melhores dias.

Rocha da Pena (Algarve) © Pedro Cuiça (2006)

A presença de caçadores e de veículos todo-o-terreno no topo da Rocha da Pena (Algarve) vem, mais uma vez, questionar a conservação desse Sítio Classificado. A Forum Ambiente esteve na Rocha da Pena, no fim-de-semana de 9-10 de Dezembro, onde constatou a presença de caçadores e de veículos motorizados no topo dessa elevação. O acesso usado foi a estrada que sobe da Peninha ao topo da “Rocha”.
Os disparos começaram, nas redondezas, mal o dia nasceu e prosseguiram, numa intensa cadência, até já bem avançada a manhã. E qual não foi o espanto ou o susto daqueles que escolheram o Sítio Classificado da Rocha da Pena para irem passear quando o “contacto com a natureza” foi bruscamente interrompido por fortes disparos de caçadeira!
Os alcantilados rochosos representam para muitas espécies de aves a tranquilidade e a segurança de que necessitam para construírem o ninho, chocarem os ovos e criarem os filhotes. A Rocha da Pena não é excepção e a perturbação das populações de rapinas que aí nidificam tem sido considerada, nomeadamente o eventual impacte da prática da escalada.

Um rochedo excepcional
As serranias, lapiás, arribas costeiras, ravinas e outros locais de difícil acesso eram tradicionalmente pouco frequentados pelo Homem. No entanto, o grande incremento das actividades de ar livre, que se verificou nos últimos anos, começa a reflectir-se na qualidade desses locais de grande beleza paisagística e riqueza natural. A conservação da natureza possibilitada pela inacessibilidade do terreno já não se mantém, devido ao grande incremento das actividades “fora de portas”, nomeadamente pela construção de (novas) vias de comunicação que facilitam o acesso. A Rocha da Pena não esteve alheia a este desenvolvimento e é raro o fim-de-semana em que não é visitada por diverso grupos de praticantes de actividades de ar livre ou simples amantes dos passeios na natureza.
A Rocha da Pena apresenta, pelas suas características ímpares, um vasto potencial para a prática de várias actividades de ar livre. Se algumas dessas actividades não serão compatíveis com a preservação do meio ambiente (por exemplo, desportos motorizados ou caça), outras poderão ser praticadas de forma integrada, valorizando as próprias potencialidades do local (pedestrianismo ou escalada). No entanto, as diversas actividades de ar livre terão de passar por uma ponderação, na perspectiva do que se entende por desenvolvimento sustentado, para que o diálogo entre os diversos intervenientes contribua para uma gestão coerente e equilibrada do património natural.

Rocha da Pena (Algarve) © Luís Miguel (2007)



*****

Um património a preservar


A Rocha da Pena (480 m), o único relevo verdadeiramente vigoroso existente no Algarve, localiza-se no limite setentrional do Barrocal, a norte da estrada Alte-Salir (concelho de Loulé). Trata-se de um carso alcandorado, talhado em calcários dolomíticos do Lias (Jurássico inferior), orientado segundo este-oeste, ultrapassando 50 metros de altura na vertente sul. A vegetação varia desde formações pioneiras sobre rocha nua e litossolos a diversos estágios de maquis e garrigue. Flora característica do Barrocal, constituída por antigas associações florísticas mediterrânicas.
O Sítio Classificado da Rocha da Pena foi criado em 1991 (Decreto-Lei nº 392/91, de 10 de Outubro), reconhecendo-se assim a importância da conservação desse património natural, um dos biótopos do programa comunitário CORINE (Coordination, Information, Environment) e área incluída no PROTAL como “Zona de Protecção da Natureza”.

[parte da Carta Militar na escala 1/25 000, folha nº 588 - Salir (Loulé)]

Sem comentários: