04/03/2009

Viver numa caverna (III)

Uma notícia publicada no jornal Hoje on line (edição 861, de 8 de Fevereiro de 2009), da autoria de Marjorie Avelar, revela que um homem vive, há 12 anos, numa gruta situada no Morro do Mendanha (Brasil). A equipa de reportagem que esteve no local referiu que o cenário era assustador: “latas de todo tipo e marcas espalhadas pelo chão, urso de brinquedo em cima de um pedaço de pau, restos de peças de carros como se servissem de decoração para a “casa” e centenas de pedras empilhadas serviam para uma espécie de pequena caverna”.
Edson Guimarães, de 62 anos, contou os motivos que o levaram a viver no local desde 1997: “Sou aposentado do antigo DNER, hoje Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes), desde os 38 anos”. A opção de viver numa gruta surgiu de repente, sem qualquer planeamento prévio. Na época em que era vigilante nocturno do DNER, no Rio de Janeiro (depois em Brasília e em outros lugares), a vida não lhe correu de feição, tendo enfrentado diversos problemas que culminaram na sua reforma compulsiva.
O homem fez aquilo que, em seu entendimento, era a melhor opção: aliar a sua falta de paciência para conviver com outras pessoas, com a falta de dinheiro e o amor pela natureza. O dono das terras apareceu apenas uma vez, em 1997, quando soube que um “invasor” tinha vindo habitar na gruta. Dirigiu-se ao local com três seguranças mas ficou tudo por ai, quando o proprietário viu que Edson era pacato e que gostava de livros... Nunca mais voltou.
Ao lado da despensa, situada na gruta, existe um fogão improvisado com pedras, onde Edson faz uma fogueira para cozinhar. “Tudo que é meu tenho de mocozar, porque já fui vítima de furto várias vezes. O povo sabe que tenho algumas coisinhas e vem aqui para me roubar”, reclamou. “Também escondo o álcool que uso para fazer comida, porque alguns amigos vêm aqui com a desculpa de me ver, mas querem bebê-lo com água e açúcar”, relatou o aposentado.
Dentro da sua habitação rupestre, além da Bíblia, Edson possui mais de 60 livros. Os preferidos são aqueles que contam histórias policiais. No entanto, o autor que mais gosta é Willian Shakespeare. Um velho rádio a pilhas é o máximo de tecnologia que tem dentro de casa, i.e. da sua gruta.

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